segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O ano, segundo Carlos Drummond de Andrade

Cortar o tempo 

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) 


sábado, 29 de dezembro de 2012

Malaquias: a sacralidade da família (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

"Dízimo". Eis a primeira palavra que vem a mente quando pensamos no livro de Malaquias. De fato, Ml 3.10 tornou-se um texto amplamente conhecido e exaustivamente repetido (por vezes de forma descontextualizada) em púlpitos de todo o país. No entanto, o conhecimento de Ml 3.10 é proporcional ao desconhecimento de outras igualmente importantes passagens do livro.

No livro de Malaquias, o último dos profetas menores e último também de nosso Antigo Testamento, na Bíblia Hebraica a ordem dos livros é outra, já estão superados os problemas de desânimo e falta de perspectiva do povo judeu recém saído do exílio, temas taxativamente abordados por Ageu e Zacarias.

Cabe aqui uma palavra sobre a identidade de Malaquias. O profeta pode ser um pregador anônimo, já que o nome Malaquias quer dizer "mensageiro". Tal teoria é reforçada pela falta de referências à família e à origem do profeta. No entanto, uma outra vertente entende que Malaquias é de fato o nome do mensageiro.

Na época de Malaquias (sendo ou não este o seu nome de fato) o templo já estava reconstruído e o sistema religioso  já tinha voltado a funcionar, inclusive com a realização dos sacrifícios descritos no livro de Levítico. Assim, com a solução do problema da idolatria (como comentamos na postagem anterior) e do difícil retorno à vida religiosa cotidiana, parece-nos que as constantes crises dos israelitas em seu relacionamento com Deus estavam por fim resolvidas.

Será?

Malaquias mostra que não. O livro começa com uma forte repreensão divina quanto à forma como estavam acontecendo os sacrifícios no templo. Não existia preocupação quanto à qualidade das ofertas. O culto tinha se transformado em mera rotina e os rituais eram realizados apenas para "cumprir tabela".

A corrupção reinante entre os sacerdotes é o tema do segundo capítulo. Ali também aparecem repreensões quanto a falta de importância demonstrada para com as relações familiares (tópico escolhido pela CPAD como tema para a aula de domingo) e ao sentimento de "superioridade espiritual" de Israel em relação a outros povos.

No capítulo 3 os sacerdotes são novamente questionados. O tema do dízimo aparece relacionado ao mal direcionamento das ofertas apresentadas no templo. Segundo a lei, os sacerdotes deveriam separar dez por cento do que recebiam para seu sustento como oferta ao Senhor (era o "dízimo do dízimo"),  no entanto não era o que estava acontecendo: as ofertas devidas não estavam chegando ao seu destino, mostrando mais uma vez o descaso dos sacerdotes para com o serviço do templo. Há quem chegasse a dizer: "É inútil servir a Deus" (Ml 3.14)


Assim, o livro de Malaquias aponta um sistema religioso baseado na mera formalidade, onde os verdadeiros objetivos do culto não eram alcançados (tema já abordado séculos antes por outros profetas, como Amós). Perceba aqui mais uma vez a atualidade das mensagens dos profetas menores.

No entanto, apesar dos pesares a esperança está presente.

Deus demonstra conhecer intimamente seus fiéis servos, o "remanescente fiel". Para estes, "nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas" (Ml 4.2)

O livro termina apontando para o futuro. Nos últimos versículos há referência ao "profeta Elias", mensageiro que, com qualidades semelhantes as de Elias, prepararia o coração do povo para o Dia do Senhor. Tal profecia cumpriria-se cerca de 400 anos depois na figura de João Batista, o precursor daquele que estabeleceria a justiça e disponibilizaria a salvação eterna a todos os povos: Jesus, o Cristo.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Zacarias: o reinado messiânico (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O livro de Zacarias a princípio nos assusta. Diferente dos outros dez profetas menores estudados até agora, boa parte de suas profecias surge sob a forma de visão. Desta forma, a linguagem simbólica é essencial para compreendermos seu conteúdo. Conhecer o contexto histórico de Zacarias nos ajuda a exterminar o receio de nos aproximarmos deste livro, que considero fascinante!

O contexto de Zacarias é o mesmo do profeta Ageu (estudado semana passada), um período de muitas interrogações e incertezas para os judeus que aos poucos instalavam-se em sua terra após os 70 anos de cativeiro babilônico.

Apesar do fim do cativeiro babilônico, os judeus não voltaram a ser uma nação independente, já que estavam agora debaixo do governo persa, que apesar de mais tolerante quanto à liberdade religiosa dos povos dominados, não deixava de ser um império opressor. Assim, as dúvidas ainda prevaleciam: será que a  punição divina havia terminado? Será que os persas continuariam a ser benevolentes? Valia a pena reerguer o templo? Deus estaria com o povo novamente?

Além da resposta de Ageu ao desânimo do povo, o profeta Zacarias também dedica seu ministério ao incentivo quanto à reconstrução do templo, bem como à reorganização do sistema religioso judaico.

O livro de Zacarias é dividido em duas partes. A primeira delas compreende os capítulos de 1 a 8 e consiste em uma série de oito visões sobre o restabelecimento do povo de Deus em sua terra.

As visões apresentam símbolos que vivificam a mensagem de Zacarias. Vou citar como exemplo a segunda visão (cap. 1.18-21), em que o profeta se vê diante de quatro chifres e quatro ferreiros. O próprio texto apresenta a interpretação: os chifres (como normalmente acontece no Antigo Testamento) simbolizam força e poder. Assim, os quatro chifres simbolizam os impérios que até aquele momento "atrapalharam" a vida de Israel. No entanto, os quatro chifres seriam "amedrontados" pelos quatro ferreiros. Ou seja, de uma forma simples Deus diz ao povo que não deveriam mais temer as nações estrangeiras.

Josué e Zorobabel, líderes nativos do povo, são personagens fundamentais nas visões de Zacarias. Na quinta visão isto é evidente, já que ali os dois personagens são representados por duas oliveiras entre um candelabro de ouro (cap 4). Caso surgisse alguma dúvida quanto à aprovação de Deus ao sumo sacerdote Josué, a comovente visão de sua purificação (cap 3) apresenta a preocupação divina neste ponto. Vale a pena lembrar que no final do livro de Ageu Zorobabel é apresentado como o anel de selar de Deus (veja a postagem sobre Ageu)

Na segunda parte do livro de Zacarias (capítulos de 9 a 14), as referências à Zorobabel e Josué não são tão frequentes. No entanto, tais capítulos estendem as promessas divinas para um período futuro em que um descendente de Davi estabeleceria o reino divino de maneira plena, exterminando os dissabores da nação israelita. O livro está "recheado" de profecias aplicadas ao futuro ministério do Senhor Jesus Cristo: sua entrada triunfal em Jerusalém (Zc 9.9 --> Mt 21.5); as trinta moedas da traição (Zc 11.12-13 --> Mt 26.14-16); a fuga dos discípulos (Zc. 13.7 --> Mt 26.31); seu lado traspassado (Zc 12.10 --> Jo 19.34-37; Ap 1.7), dentre outras*.

Outra característica da segunda parte de Zacarias é a constante crítica aos pastores infiéis de Jerusalém. Assim, a mensagem de consolo ao povo é evidente: ainda que os futuros líderes falhassem, a fidelidade divina permaneceria e o Messias surgiria, aniquilando os poderes do mal e estabelecendo seu reino de glória e poder. Posteriormente, o Messias nos ensinaria que, antes de nos preocuparmos com suas dimensões políticas, devemos entender que tal reino começa dentro de nossos corações... este é um assunto para postagens futuras.

Abraço a todos e todas e boa aula!


sábado, 15 de dezembro de 2012

Ageu: o compromisso do povo da aliança (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O livro de Ageu inaugura uma nova fase no ministério profético israelita.

A partir de então não vemos mais repreensões contra a idolatria, até porque o cativeiro "curou" Israel deste mal (vale a pena lembrar que agora o antigo reino do sul, Judá, que foi para o cativeiro babilônico e após 70 anos regressou para sua terra voltou a ser chamado de "Israel").

 Diferente dos babilônicos, os persas, que agora dominavam os israelitas, eram bastante tolerantes em relação ao sistema religioso dos povos dominados, tanto é que Ciro, rei dos persas, incentivou o retorno dos exilados e a reconstrução do templo em Jerusalém.

Os problemas pelos quais Israel passava na época de Ageu são diferentes daqueles vistos pelos profetas que o sucederam .Ao se restabelecerem em sua terra os judeus tinham o difícil desafio de redefinir sua identidade, começando "do zero" não apenas a construção do templo, mas todo o sistema religioso em torno dele.

O primeiro grupo de judeus que voltou à Jerusalém reiniciou a construção do templo, no entanto, as obras foram paralisadas ainda em seu início, já que o entendimento geral era que o novo templo jamais seria como o majestoso e glorioso templo de Salomão destruído pelos babilônicos. Assim, preferiu-se dar prioridade à reforma das casas dos judeus que retornavam.

A mensagem de Ageu vai de encontro a este sentimento de desânimo frente ao desafio do recomeço. Para os judeus que conheceram o antigo templo de Salomão, não era nada fácil começar a construir um novo templo:

‘Quem de vocês viu este templo em seu primeiro esplendor? Comparado com ele, não é como nada o que vocês vêem agora?
"Coragem, Zorobabel", declara o Senhor. "Coragem, sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. Coragem! Ao trabalho, ó povo da terra! ", declara o Senhor. "Porque eu estou com vocês", declara o Senhor dos Exércitos.
Esta é a aliança que fiz com vocês quando vocês saíram do Egito: "Meu espírito está entre vocês. Não tenham medo 
(Ag 2.3-5 - NVI)

A promessa de Deus é clara: o Senhor estava disposto a ajudá-los desde que seus corações se dispusessem  ao trabalho da reconstrução. Quanto às comparações com o antigo templo, que provocavam o sentimento de letargia no povo, Deus propõe uma nova comparação, desta vez surpreendente, que tornou-se no mais conhecido versículo de Ageu: "A glória da segunda casa [ou seja, do novo templo], será maior que a da primeira [ou seja, do majestoso templo de Salomão]" - Ag 2.9. 

Quanto à Zorobabel, líder judeu, Deus faz uma promessa particular: "eis que te farei como um anel de selar" (Ag 2.23). Zorobabel era descendente de Davi, portanto herdeiro do trono de Israel caso a nação se torna-se novamente independente (como era na época de Davi e Salomão). Assim, ao mostrar sua preocupação com Zorobabel e apontá-lo como um agente executor de sua vontade, Deus estava mostrando sua fidelidade para com as promessas feitas à linhagem de Davi, que apontavam para o Messias restaurador: o Cristo. 

Assim, o livro de Ageu lança luz sobre os momentos em que o recomeço após um período de dor parece impossível e quando o futuro apresenta-se incerto. Nestes momentos a esperança nascida das promessas divinas deve ser combustível para a recuperação do ânimo perdido. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Revista Estudos de Religião lança número dedicado a obra de Émile Durkheim

Em 1912, o francês Emile Durkheim, considerado um dos pais da sociologia, publicou o clássico As formas elementares de vida religiosa. O livro tornou-se uma das mais importantes obras de sociologia da religião já escritas, abrindo espaço para a abordagem científica do fato social religioso. Suas teorias inspiraram um sem-número de pesquisas sobre religião em diversas regiões do mundo.


Para comemorar o centenário de publicação das Formas elementares de vida religiosa, a tradicional revista Estudos de Religião do Programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo lançou um número especial dedicado integralmente às contribuições e controvérsias do clássico. A Revista (nº 26 / Vol. 42) foi divulgada nesta terça-feira (dia 11/12) e conta com a participação de pesquisadores do Brasil, Itália, Chile e Perú.

O número foi organizado pelo Prof. Dr. Paulo Barrera e conta com artigos dos Profs. Silas Guerriero (PUC-SP), Enzo Pace (Univ. de Padova - Itália), Dorothea Ortmann (Univ. Nacional Mayor de San Marcos - Lima - Perú), Ana Keila Pinezi e Érica Jorge (UFABC), Ricardo Bitun (Mackenzie), João Clemente de Souza Neto (UNIFIEO / Mackenzie), Bernardo Guerrero Jimenez (Universidad Católica del Norte - Chile), Menara Guizardi (Univ. de Tarapacá - Chile), Edemir Antunes Filho (Univ. Metodista) e Elisa Rodrigues (Doutoranda - UNICAMP) e Maxwell Fajardo (Doutorando - UNESP).

A Revista está disponível nas versões impressa e eletrônica (disponível gratuitamente aqui)  

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Evangélicos são tema de capa da Revista de História da Biblioteca Nacional


Não há dúvidas de que o movimento evangélico está em evidência no Brasil. Os números do último Censo apontando a quantidade de fiéis em 42 milhões,  o espaço que a música e a cultura gospel vem conquistando na mídia, bem como o debate de temas religiosos ditando a tônica de campanhas eleitorais têm despertado o interesse de pesquisadores de diversas áreas.

Atendendo a esta demanda, a Revista de História da Biblioteca Nacional reservou a matéria de capa de sua edição do mês de dezembro para o dossiê temático Evangélicos: a fé que seduz o Brasil. A RHBN  reúne mensalmente matérias e artigos de mestres e doutores de conceituadas universidades brasileiras elaborados para atender não apenas a universitários e especialistas em história, mas ao grande público em geral. O dossiê foi organizado pela historiadora Nashla Dahás, doutoranda em história pela UFRJ.

A imagem de capa "Mulher dançando no Espírito" (do acervo do "Centro de Estudos do Movimento Pentecostal") foi comentada pela Profª Karina Bellotti, da Universidade Federal do Paraná, conhecida pelos seus estudos na área de mídia evangélica no Brasil. No site da Revista é possível acompanhar uma entrevista com a Profª Karina.

O dossiê conta com uma reportagem de Alice Melo sobre a cultura dos evangélicos no Brasil, acentuando as mudanças ocorridas no movimento nas últimas décadas. A seguir, o artigo de Silvia Patuzzi (PUC-RJ) resgata as origens do movimento evangélico nas teorias de Martinho Lutero na Europa do século XVI. O texto de Angelo Adriano Faria de Assis (UFV) trata do estabelecimento das primeiras igrejas evangélicas no Brasil nas primeiras décadas do século XIX.
Marcos Alvito (UFF) fala sobre a presença pentecostal nas regiões de periferia das grandes metrópoles, enquanto Ricardo Mariano (PUC-RJ), principal responsável pela disseminação do termo neopentecostal no Brasil, aborda a relação entre religião e política observando a atuação dos parlamentares da bancada evangélica.

Os textos de Eduardo Refkalefsky (UFRJ) e Orivaldo Pimentel Lopes Junior (UFRN) fecham o dossiê ao comentarem as estratégias (conscientes ou não) de crescimento dos pentecostais no Brasil.

A Revista é uma excelente indicação para quem deseja se aproximar desta área de estudos cada vez mais complexa e intrigante. Mais informações podem ser obtidas no site da Revista. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

#Podcast 02: Qual era a ovelha?


O ser humano tem o "vício" de classificar as pessoas. Quem já não se sentiu menosprezado ao ser comparado com outra pessoa considerada melhor?
 Nossa sociedade é "expert" na "arte" de excluir pessoas. 
O problema da exclusão foi abordado nos ensinamentos de Cristo? 
O que Jesus pensava a respeito do assunto? 
No podcast a seguir falamos sobre o tema em poucos minutos. 
Para ouvir basta clicar no player:  

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sofonias: o juízo vindouro (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

Qual foi a última pregação que você ouviu sobre o livro de Sofonias?

Na aula introdutória que tivemos sobre os Profetas Menores na Escola Dominical, fiz esta pergunta aos meus alunos. Ninguém se lembrou de ter ouvido algo sobre o profeta Sofonias. Confesso que eu também nunca preguei ou me lembro de ter ouvido alguém pregar sobre este "desconhecido profeta".

De fato o livro de Sofonias foge do  habitual, por conta da vivacidade com que as profecias são expressas. As figuras de linguagem usadas no livro não são estão ali para suavizar uma mensagem forte, mas para deixá-la mais forte ainda. O segundo versículo do livro já mostra o tom da mensagem : "Hei de consumir por completo tudo de sobre a terra, diz o SENHOR". Os dois primeiros capítulos e mais da metade do terceiro tratam de destruição e juízo!

Sofonias profetizou em Jerusalém logo após os reinados de Amon e Manassés, que figuram no topo da lista dos piores reis que Judá já teve. Ao que tudo indica, a grande Reforma da época do rei Josias ainda não tinha acontecido. Já faziam 55 anos que não se ouviam vozes de profetas como Naum, Miquéias e Isaias. Além disso, a injustiça social, a idolatria e as diferentes espécies de iniquidades se multiplicavam a um nível assustador!

Atitudes pecaminosas extremas exigiam repreensões extremas e Sofonias cumpriu corajosamente este papel.

O anúncio de Sofonias sobre a destruição de Jerusalém cumpririam-se algumas décadas mais tarde com a invasão dos exércitos babilônicos.

Tão duro juízo justifica-se por pelo menos dois motivos: os oprimidos, aqueles que não tinham ninguém por si e que durante décadas sofreram sem qualquer direito assegurado não podiam continuar vendo o triunfo de seus algozes. Note que nas Escrituras há sempre uma atenção especial de Deus pelo "orfão e pela viúva", ou seja, por aqueles que não têm ninguém que possa reclamar seus direitos. Deus preocupa-se com a situação dos desamparados.

A justiça faz parte do caráter divino. Note, por exemplo, que a graça de Deus revelada em Cristo é a concretização da justiça de Deus em nosso favor a partir do momento que Jesus levou nossa culpa. Ou seja, nossos pecados foram julgados em Cristo.

Em um segundo aspecto sobre a justiça de Deus em Sofonias devemos nos lembrar das inúmeras advertências que outros profetas já haviam apresentado. Devemos nos lembrar também que Judá tinha também o exemplo do Reino do Norte, já levado ao cativeiro pelos Assírios.

Assim, as repreensões de Sofonias devem ser entendidas dentro de um processo mais amplo de correção por parte de Deus. Processo iniciado há séculos, já que no pentateuco já há advertências neste sentido.

Vejo o juízo de Deus em Sofonias como a aplicação de um duro castigo por parte do pai a um filho a quem diversas tentativas de aconselhamento e sanções menores já foram feitas. Na realidade, por difícil que possa parecer, tal castigo origina-se no desejo da proximidade. Tal castigo, por paradoxal que seja, origina-se no amor.

Tal evidência é clara no final do livro de Sofonias, quando se fala do perfeito relacionamento de Deus com o "remanescente fiel", aquele que após passar pelo juízo consegue compreender a intenção maior de Deus e descobre seu caráter justo e amoroso. O contraste é tão grande que, segundo Myer Pearlman, há quem duvide que o mesmo Sofonias que escreveu as catastróficas mensagens dos dois primeiros capítulos tenha terminado o livro de modo tão terno.

No entanto, o contraste tem um objetivo: mostrar que o juízo é fruto do zelo de um Deus amoroso (Sf 3.8), cujo desejo é estar próximo dos seus:


Naquele dia se dirá a Jerusalém: "Não tema, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem.
O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você, com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria".
"Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vocês, para que isso não mais pese como vergonha.
Nessa época agirei contra todos os que oprimiram vocês; salvarei os aleijados e ajuntarei os dispersos. Darei a eles louvor e honra em todas as terras onde foram envergonhados.
Naquele tempo eu ajuntarei vocês; naquele tempo os trarei para casa. Eu lhes darei honra e louvor entre todos os povos da terra, quando eu restaurar a sua sorte diante dos seus próprios olhos", diz o Senhor. 


Na próxima semana saltaremos para o livro de Ageu, que profetizou após o cativeiro babilônico. Entre outras coisas, será possível observar quais marcas o juízo divino  deixou no povo de Deus. 

Abraço a todos e todas! 





quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Habacuque: a soberania divina entre as nações (Série Profetas Menores na Escola Dominical)


O livro de Habacuque começa com um problema. O profeta, que possivelmente tinha uma posição de destaque em sua comunidade local, questiona a Deus sobre a multiplicação do mal em sua nação.

Habacuque não entendia como o Senhor permitia que a justiça fosse ultrajada da forma como estava acontecendo em Judá. Homens corruptos envergonhavam a nação e, aparentemente, Deus não estava fazendo nada.

É possível que a inquietação de Habacuque nascesse de suas lembranças passadas da época do rei Josias, em que a obediência e a guarda da lei do Senhor tinham sido resgatadas como padrão de conduta da nação. Agora, o profeta se indigna por ver o oposto acontecendo: a corrupção, a mentira e a opressão se transformaram no padrão de conduta do povo (cap 1.2-4)

A resposta de Deus aos questionamentos do profeta foi difícil de digerir: Deus enviaria os caldeus (que posteriormente uniriam-se aos babilônicos e a outros povos na coalizão que formaria o Império Babilônico) para devastar a nação e assim estabelecer o juízo de Deus sobre as maracutaias que se multiplicavam no reino de Judá.

A resposta de Deus desceu cortando as entranhas de Habacuque e ele mais uma vez se indigna: como Deus permitiria que uma nação ímpia e pavorosa como eram os caldeus julgassem Judá, que apesar de seus inúmeros pecados, ainda era o povo de Deus? Estaria Deus desconsiderando os  pecados dos caldeus?

O desespero do profeta foi motivado por questões tão antigas quanto o próprio ser humano: por que Deus permite que o justo sofra? Por que o homem mal prospera? Tais questões estão presentes nos livros mais antigos da Bíblia. Há inclusive um livro quase que inteiramente dedicado a discutir isto, o livro de Jó. Em Eclesiastes o tema também ressoa.

As questões são antigas, mas vez ou outra continuam a ressoar também em nossos lábios: por que Deus permite a injustiça? Por que o justo sofre? Por que Deus não pune o perverso? Por quê? Por quê?

No início do capítulo 2, Habacuque se retira para a "torre de vigia" e aguarda a resposta de Deus ao indecifrável e injusto quebra-cabeça. A resposta do Senhor apresenta dois pontos principais: em primeiro lugar, futuramente os caldeus também colheriam os frutos de seus maléficos atos. Em segundo lugar, o justos de Judá não deveriam ficar aflitos pois a fé seria o alicerce suficientemente capaz de os sustentarem quando fossem surpreendidos pelos caldeus: "O ímpio está envaidecido, seus desejos não são bons, mas o justo pela sua fé viverá" (Hb 2.4 - NVI/ARC)

Em boa parte das traduções bíblicas em português esta é a única vez que a palavra Fé aparece no Antigo Testamento, embora sinônimos como confiança sejam abundantes.

Creio que este versículo é central em Habacuque: embora não entendamos o porquê do curso dos acontecimentos, a fé é capaz de nos sustentar mesmo quando sofremos o mal por conta daquilo que não fizemos. Ainda que soframos por culpa de outro, nossa fé nos sustentará.

Note que  a palavra fé não tem o sentido mágico com o qual tantas vezes ela é interpretada: a fé que serve apenas para conquistar bens, ampliar nosso patrimônio e satisfazer nosso desejos (as vezes legítimos, mas as vezes efêmeros). Para além disso, fé tem a ver com o relacionamento sincero com Deus mesmo em meio à pior das hipóteses. Fé é confiança. Fé é certeza da presença de Deus mesmo em meio ao mais agitado mar. Não é a toa que o escritor aos Hebreus compara a fé a uma âncora segura.

Quanto à Habacuque, podemos ter certeza que ele assimilou perfeitamente a mensagem, tanto é que encerra seu livro expressando sua confiança no Senhor da melhor forma possível, e ainda por cima, cantando:


Mesmo não florescendo a figueira, 
não havendo uvas nas videiras; 
falhando a safra de azeitonas, 
não havendo produção de alimento nas lavouras, 
nem ovelhas no curral 
nem bois nos estábulos,
ainda assim eu exultarei no Senhor 
e me alegrarei no Deus da minha salvação.
O Senhor Soberano é a minha força; 
ele faz os meus pés como os do cervo; 
ele me habilita a andar em lugares altos.

Que alimentemos este tipo de fé!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O que preocupava Jesus?

No capítulo 17 de João Jesus está orando por seus e discípulos e por sua Igreja, que iniciaria sua atividade algumas semanas depois. Na ocasião, Jesus estava prestes a encerrar seu ministério  na terra. A missão de Cristo ao tomar forma humana estava chegando ao seu ponto mais alto: a cruz. Nos capítulos seguintes acompanhamos toda a agonia, sofrimento e certeza do Mestre ao enfrentar a morte. Antes porém  encontramos Jesus orando.

Quando oramos, apresentamos a Deus os anseios de nossa alma. A orientação bíblica é que as nossas preocupações sejam expostas diante do Senhor quando conversamos com ele. A oração sincera tem o poder de trazer à tona, não apenas para Deus mas para nós mesmos, os nossos sentimentos mais íntimos.  Na oração franca falamos daquilo com o qual nos importamos e do qual nos preocupamos.

O livro de Salmos é o exemplo máximo da exposição de preocupações na oração, nele vemos súplicas desesperadas, corações agradecidos, santos em dúvidas frenéticas, mentes incompreendidas, guerreiros acuados... enfim, os Salmos trazem à superfície o que estava no mar do coração do escritor. Para sentir isto, faça um teste: leia a história de Davi em I e II Samuel, e depois aprecie os Salmos escritos por ele. Você conhecerá duas dimensões do rei de Israel: sua projeção diante de outras pessoas, e as nuances de seu coração.

Voltando a falar do capítulo 17 de João...

O registro da oração sacerdotal de Jesus, como é conhecido este capítulo, nos permite acompanhar quais eram as coisas com as quais Cristo se preocupava apenas algumas horas antes de sua morte e ressurreição. Além desta oração, temos também os registros de Mateus e Marcos sobre a angústia pessoal de Cristo no Getsemani, onde expõe ao Pai sua agonia.

No entanto, em João 17 é possível conhecer um pouco mais do que se passava no coração de Jesus. É possível conhecer algumas de suas preocupações neste momento ímpar.

Primeiramente, o Mestre demonstra um sentimento de "dever cumprido" em seu ministério, quando usa expressões como: dei-lhes a tua palavra; manifestei teu nome aos homens; eles creram que tu me enviaste; nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição....

No entanto,o mais interessante é  percebemos que o coração de Jesus estava em seus discípulos e em sua futura Igreja. A preocupação de Cristo é com a forma como seus seguidores se relacionariam entre si e como se relacionariam com ele dali para frente. O versículo 21 expressa isto de maneira muito clara: "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste"

Perceba: Jesus entende que, para que sua missão seja eficazmente completa, os discípulos deveriam formar uma unidade. Assim, como na primeira parte da oração ele demonstra ter cumprido fielmente sua missão, pede agora ao pai que a Igreja também consiga. E isto só acontecerá quando seus seguidores formarem um único organismo por intermédio de uma unidade de propósitos.

Jesus usa como referência de unidade a sua própria ligação com o pai: não é possível separar os membros da Trindade. Não é possível imaginar o Pai, o Filho ou o Espírito Santo trabalhando de forma independente. Os três são um. Estão unidos de uma maneira tão estreita que normalmente temos dificuldade de explicar o conceito de Trindade.

Eis a preocupação de Jesus em João 17: que seus seguidores estejam unidos entre si e com ele próprio da maneira mais estreita possível, tendo como referência o tipo de ligação que existe entre os membros da Trindade. Só assim o mundo crerá na obra redentora de Cristo.

O que nos entristece é perceber que , na maioria dos casos, as nossas maiores preocupações como cristãos hoje são tão diferentes das preocupações que moveram o coração de Cristo...



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Naum: o limite da tolerância divina (Série Profetas Menores na Escola Dominical)


Naum e os outros dois próximos profetas menores, Habacuque e Sofonias, tratam do mesmo tema em suas profecias: o julgamento divino. No caso de Habacuque e Sofonias, as mensagens centralizam-se no julgamento contra a Babilônia, enquanto no caso de Naum a profecia aplica-se à Assíria, cuja capital era a imponente cidade de Nínive.
Cerca de 150 anos antes, Nínive esteve no centro de uma forte demonstração da graça e misericórdia divina, durante o ministério de Jonas. Agora, a corrompida Nínive recebe duras repreensões de Naum, muito embora, tenhamos que levar em conta que mesmo que o assunto do livro seja a destruição da capital assíria, o livro foi escrito para os moradores de Judá, como uma forma de consolo, depois de tantos anos de sofrimento na mão do poderoso império.
 Entre Jonas e Naum muita coisa aconteceu: os assírios tornaram-se um império ainda mais poderesos, subjugaram nação, fortaleceram-se e levaram em cativeiro inclusive Israel, o reino do norte.Agora representavam uma séria ameaça para o remanescente reino do sul, Judá. Assim, o livro também aponta para a justiça divina: embora os ninivitas no passado tivessem cumprido os propósitos divinos quando levaram em cativeiro o reino do norte, sua maldade não ficaria impune.
A princípio o livro gera certo desconforto no leitor, principalmente quando tentamos conciliar a destrutiva mensagem de Naum com a misericórdia divina expressa no livro de Jonas, por exemplo. No entanto, os escritos proféticos indicam que o julgamento divino nada mais é do que a consequência do longo período  de opulência do grande império assírio. Por décadas e décadas os assírios governaram com mão de ferro províncias e reinos que os sustentavam com impostos e trabalhos forçados. Uma das maiores censuras de Naum aos assírios é a seu orgulho, o fato de acreditarem que seu reino subsistiria para sempre.
A queda de Nínive foi atípica: ela não foi esmigalhada de uma vez por um exército inimigo, mas depois de perder seu poderio para o crescente Império Babilônico, perdeu as províncias que lhe sustentavam e garantiam seu status. Sem apoio e solitária, Nínive se esvaiu. Assim, o livro aponta para uma das verdades mais destacadas nas Escrituras, do Antigo ao Novo Testamento: as glórias do mundo e o poderio humano são efêmeros. Não subsistem ao tempo. Os exércitos assírios não são nada quando comparados ao poder de Deus e seu exército.
  Naum nos mostra que a ira de Deus não é irracional: nos versículos 6 e 7 do capítulo 1  há um contraponto entre a severidade e a serenidade de Deus: embora ninguém consiga resisti-lo em sua ira,o Senhor conhece os que lhe pertencem e lhes garante refúgio em tempos de crise, iniquidade e destruição!
Assim, ainda que você seja o império mais poderoso do mundo, não vale a pena confiar em sua própria força, pois os tempos mudam e novas forças surgem. Apenas o poder de Deus permanece: tal mensagem é sempre atual, independentemente do período histórico em que estejamos vivendo.

Nas duas próxima semanas o tema do julgamento divino volta a ser discutido nos livros de Habacuque e Sofonias. Contamos com sua visita!

Abraço e bons estudos!


sábado, 17 de novembro de 2012

Miquéias: a importância da obediência (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

Miquéias é um dos exemplos mais nítidos do ministério profético no Antigo Testamento. Seu livro apresenta mensagens duras de repreensão entrelaçadas à lampejos de esperança. 
Apesar de originário do reino do sul, as profecias de Miquéias apontam também para o reino do Norte, Israel. Aliás, esta é a tônica da mensagem em todo o livro: o pecado estava ao ponto de levar Israel à destruição pelas mão dos assírios, e não muito tempo depois, Judá também cairia, se não se convertesse de fato ao Senhor. Há quem acredite que Miqueias começou a pregar antes da queda de Samaria, e que  acompanhou todo o processo de destruição da nação vizinha. Por isso, podia falar com propriedade à Judá, usando como exemplo o reino de Israel, que já estava cativo. 
O profeta Miqueias apresenta paralelos interessantes com o profeta Amós: ambos identificam-se como pessoas do povo, que assistiam diariamente a opressão sofrida pelos mais pobres. Enquanto Amós profetizou no reino do Norte, Miqueias apresenta problemas muito semelhantes em Judá: a injustiça social de seu povo era "aprovada" por "profetas profissionais", normalmente pagos pelos mais ricos para justificarem os abusos cometidos contra os indefesos. Assim, o livro de Miqueias nos apresenta um sistema religioso que funcionava muito bem, mas que servia para encobrir as práticas abomináveis da injustiça, da corrupção e da soberba. Durante seu ministério Miqueias lançou veementemente a sua voz contra as práticas religiosas que encobriam corações perversos e inundados pelo pecado. Desta forma, podemos tirar um valiosa lição deste livro: é possível ser um excelente religioso, cumprindo todas as práticas relativas ao culto e ao trabalho ministerial sem no entanto ter um caráter realmente condizente com o cerne do Evangelho. Tal temática aparece constantemente nos embates de Jesus com os fariseus, bem como nas preocupações do apóstolo Paulo. 
Miqueias, além de pregar na mesma época de Oseias e Amós, também foi contemporâneo de Isaías. Enquanto Miqueias profetizava entre o povo, Isaías (que aliás era primo do rei Uzias) profetizava no palácio. No entanto ambos apresentam uma incisiva mensagem contra o pecado de Judá. Os capítulos 2 e 3 de Miqueias, por exemplo, mostram a decepção de Deus com Judá de maneira impetuosa, ao mesmo tempo em que são capítulos atualíssimos, já que falam de corrupção e opressão política e econômica, temas ainda tão presentes em nosso tempo! 
Apesar da dureza de palavras de Miqueias, suas profecias entrelaçam-se à misericórdia divina. Aliás, este é um aspecto sempre presente na relação entre Deus e seu povo: sempre que o arrependimento se manifestar, a misericórdia do Senhor se apresentará e suas promessas ganharão destaque. Ao que tudo indica, parte das palavras de Miqueias e dos profetas de sua ápoca foram ouvidas, pois Judá foi preservado da destruição por mais algumas décadas. No entanto, quando deixaram de obedecer ao Senhor, abraçando novamente a um sistema religioso vazio, o pecado os levou ao cativeiro. Deus nos guarde de nos esquecermos dele e usarmos nossas práticas religiosas para nos escondermos de nossa própria consciência! 


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Procuradoria quer excluir expressão 'Deus seja louvado' das cédulas de real


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Notícia publicada originalmente no Portal Folha de São Paulo
O Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública nesta segunda-feira (12) em que pede que as novas cédulas de real passem a ser impressas sem a expressão "Deus seja louvado".
O pedido, feito pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, diz que a existência da frase nas notas fere os princípios de laicidade do Estado e de liberdade religiosa.
"A manutenção da expressão 'Deus seja louvado' [...] configura uma predileção pelas religiões adoradoras de Deus como divindade suprema, fato que, sem dúvida, impede a coexistência em condições igualitárias de todas as religiões cultuadas em solo brasileiro", afirma trecho da ação, assinada pelo procurador Jefferson Aparecido Dias.
"Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: 'Alá seja louvado', 'Buda seja louvado', 'Salve Oxossi', 'Salve Lord Ganesha', 'Deus não existe'. Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus", segue o texto.
O Banco Central, consultado pela Procuradoria, emitiu um parecer jurídico em que diz que, como na cédula não há referência a uma "religião específica", é "perfeitamente lícito" que a nota mantenha a expressão.
"O Estado, por não ser ateu, anticlerical ou antirreligioso, pode legitimamente fazer referência à existência de uma entidade superior, de uma divindade, desde que, assim agindo, não faça alusão a uma específica doutrina religiosa", diz o parecer do BC.
O texto do BC cita ainda posicionamento do especialista Ives Gandra Martins, em que afirma que a " Constituição foi promulgada, como consta do seu preâmbulo, 'sob a proteção de Deus', o que significa que o Estado que se organiza e estrutura mediante sua lei maior reconhece um fundamento metafísico anterior e superior ao direito positivo".
Segundo o texto do BC, a expressão apareceu pela primeira vez na moeda nacional em 1986, nas cédulas de cruzados, por orientação do então presidente, José Sarney, e foi mantida nas notas de real por determinação de Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda.
O responsável pelas características das cédulas é o Conselho Monetário Nacional, que tem entre seus membros o presidente do BC.
A Procuradoria pede que a União comece a imprimir as cédulas sem a frase em até 120 dias. Pede ainda que haja uma multa simbólica de R$ 1 por dia de descumprimento.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Jonas: a misericórdia divina (Série Profetas Menores na Escola Dominical)


Os estudiosos do Antigo Testamento se dividem quanto ao livro de Jonas: alguns afirmam que o livro na realidade é uma espécie de parábola onde o principal objetivo é ensinar uma lição sobre a misericórdia divina à Israel. Outros acreditam que a história de Jonas, seu incidente com o grande peixe e sua pregação na cidade de Nínive realmente aconteceram, argumento reforçado pelo fato do próprio Jesus referir-se ao evento de modo enfático.
 De qualquer forma, podemos dizer com certeza que Jonas é o mais conhecido entre os profetas menores. Quem nunca ouviu uma pregação ou ao menos um comentário sobre o desobediente profeta que mandado por Deus para Nínive, toma um navio para Társis, e após uma grande confusão causada por uma tempestade é lançado ao mar, passa três dias na barriga de um grande peixe, se arrepende, e por fim vai à Nínive após ser vomitado na praia? O relato é curioso e ao mesmo tempo surpreendente.
Também surpreendem as características diferenciadas do profeta Jonas. Ele é o único dos profetas menores com os quais não nos identificamos positivamente na leitura, a não ser quando ele ora ao Senhor no ventre do peixe. Ao lermos, ficamos "torcendo" para que Jonas consiga entender os propósitos de Deus para com a cidade de Nínive e mude sua opinião com relação ao arrependimento da cidade.
Jonas não aparece no relato bíblico apenas no livro que leva seu nome. Em II Rs 14, ele profetiza sobre a expansão de Israel durante o reinado de Jeroboão II (o mesmo contra quem Amós profetizou). Ao que tudo indica, Jonas não conseguia entender como o mesmo Deus que lhe usara para profetizar a expansão das fronteiras de Israel poderia estar preocupado com uma nação gentílica e adoradora de outros deuses.
Há duas partes do livro de Jonas que sempre me fascinaram: a primeira é a belíssima oração do capítulo 2, onde fica em destaque a disposição de um Deus que atende alguém que, por consequência de seus próprios atos, chegou às maiores profundezas da solidão e do desespero. Jonas ora de um lugar inimaginável e totalmente impróprio para se fazer qualquer tipo de coisa, inclusive estar vivo! A oração gera esperança no leitor pois aponta para o Deus que ouve o grito daquele que estiver nas condições mais impróprias e indignas de sobrevivência.
A personalidade de Jonas e a forma como ela vem à tona no capítulo 4 também me fascinam: após ser alvo da graça imerecida de Deus de um forma inquestionável, o arrependido Jonas vai à cidade de Nínive e após ouvir novamente a voz de Deus, prega o que lhe foi ordenado: "Em quarenta dias Nínive será destruída!"
No entanto, o inesperado acontece (note como o livro está recheado de episódios surpreendentes e inesperados!): o impacto da mensagem de Jonas gerou uma comoção geral, que se transformou inclusive em uma "política pública de arrependimento", já que o próprio rei decretou a obrigatoriedade de jejuns e orações, para que a ira de Deus não se consumasse sobre a cidade.
Assim, entramos no capítulo 4, que considero fantástico: Jonas está extremamente bravo porque Deus decide não destruir a cidade e reclama pessoalmente com ele. A seguir, senta-se ao oriente da cidade para assistir "de camarote" o que vai acontecer com ela. Surpreendentemente, Deus faz surgir uma aboboreira sobre a cabana que Jonas improvisara para lhe proteger do sol. A atitude de Deus alivia a raiva de Jonas e o transporta ao sentimento de alegria, pois ao menos seu conforto estaria garantido enquanto ele esperava a decisão definitiva de Deus para a cidade.
No entanto, novamente a surpresa aparece no livro, com uma sucessão de eventos desagradáveis para o profeta: a  aboboreira secou-se de um dia para outro por conta de um verme, um vento oriental atingiu a cabana de Jonas e a força dos raios solares fez com que o profeta desmaiasse. Ao acordar, o profeta que até dois capítulos atrás desfrutava humildemente da profunda compaixão de Deus após orar na barriga de um peixe, agora está no topo de sua indignação e deseja a morte!
T.J. Carlisle transforma o episódio em um verso:

"E foi Jonas batendo os pés
para o seu posto à sombra
e esperou que Deus
mudasse de ideia,
pensasse como ele

E continua Deus ainda esperando
que uma hoste de Jonas
mude de ideia
ame como ele"(*)

A indignação de Jonas me faz lembrar de outros episódios bíblicos: a indignação do filho mais velho quando seu irmão pródigo é recebido com festa por seu pai (Lc 15) , a indignação  dos fariseus ao ver Jesus conversando e jantando com publicanos e pecadores (Mc 2) , a inicial incompreensão de Pedro quando Deus lhe manda pregar o Evangelho a um não judeu (At 10). Enfim, parece que o sentimento de Jonas não era exclusivo a ele...
Será que vemos este sentimento vivo em nós mesmos, quando achamos que 'Deus é só nosso' e que há pessoas que não podem e não devem participar de seu amor? De certa forma, apesar de criticarmos as atitudes de Jonas,  nos identificamos com ele quando não compreendemos como Deus pode ser tão misericordioso com pessoas das quais não consideramos dignas. A lição do livro de Jonas é clara: se Nínive não merecia ser salva, por que Jonas merecia ser salvo do ventre do peixe? Para ambos os casos a resposta é única: a misericórdia divina transcende nossa noção de justiça e de merecimento.
É muito interessante a forma como o livro termina. Diante da indignação extrema do profeta, Deus lhe faz uma pergunta: "Você tem pena dessa planta, embora não a tenha podado nem a tenha feito crescer. Ela nasceu numa noite e numa noite morreu.Contudo, Nínive tem mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem nem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos rebanhos. Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?" (Jn 4.11-12). Não sabemos o que aconteceu depois. O livro termina aí! Como Jonas reagiu? Ele acabou concordando com o propósito de Deus? Se arrependeu de estar tão furioso? Entendeu que a mesma misericórdia que Deus ofereceu para ele ao tirá-lo de dentro do ventre do peixe era a mesma que Deus queria oferecer aos ninivitas?  Não sabemos. Propositalmente a Bíblia deixa que nós pensemos na reação de Jonas e indiretamente lança outra questão: como nós agiríamos no lugar dele?


(*) T.J. Carlisle, You!Jonah! citado por William LaSor em Introdução ao Antigo Testamento (Ed. Vida Nova) 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Comissão da Verdade vai discutir atuação de igrejas durante regime militar


Com informações da Agência Brasil

Yara Aquino
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Comissão Nacional da Verdade criou um grupo de trabalho para analisar o papel das igrejas Católica e da evangélica durante o regime militar (1964-1985). A primeira reunião será na quinta-feira (8), em São Paulo. O grupo pretende aprofundar as discussões sobre a atuação que as igrejas e os religiosos tiveram tanto na resistência ao regime militar quanto na colaboração com a repressão.
O trabalho do grupo será todo desenvolvido com a assessoria de pesquisadores autônomos e da sociedade civil especializados em ciências da religião, história e sociologia. No primeiro encontro, eles apresentarão os temas de pesquisa e farão o planejamento da agenda de trabalho para os próximos meses. A coordenação dos trabalhos é do professor Paulo Sérgio Pinheiro, membro da comissão.

Na próxima semana, entre os dias 16 e 18, a Comissão Nacional da Verdade terá atividades no interior do Pará para averiguar questões referentes à Guerrilha do Araguaia, ocorrida no período de 1960 a 1970. Um dos temas será a análise sobre a atuação na guerrilha da etnia Suruí, que atualmente vive na Terra Indígena Sororó. Há controvérsias sobre o assunto apesar de existir informações sobre a exploração de indígenas desse grupo pelos militares.

sábado, 3 de novembro de 2012

Novo número da Revista Brasileira de História das Religiões: texto sobre a Assembleia de Deus



O Grupo de Trabalho "História das Religiões e das Religiosidades" da "Associação Nacional de História" (ANPUH) acaba de lançar o novo número da Revista Brasileira das Religiões. A publicação é referente ao 2º quadrimestre de 2012.
A revista, que está em seu 13º número, reúne artigos científicos de pesquisadores de diferentes instituições sobre as mais variadas manifestações religiosas. A publicação é eletrônica e os arquivos estão disponíveis gratuitamente no site da Revista (clique aqui)
Neste novo número (disponível aqui)  há um artigo que escrevi sobre a Igreja Assembléia de Deus no Brasil, onde abordo a utilização das biografias dos seus fundadores sob a perspectiva da memória coletiva.
Há ainda outros onze artigos que estudam temas diversos, como as religiões escandinavas, a Renovação Carismática Católica e a Igreja Bola de Neve. Para os interessados no estudo acadêmico das religiões vale a pena conhecer!

Abraço a todos e todas e boa leitura!

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Obadias: o princípio da retribuição (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O livro de Obadias tem características singulares, a começar pelo seu tamanho: é o único livro do Antigo Testamento que tem apenas um capítulo. Além disso, diferente da maioria dos outros profetas menores, o foco de sua mensagem não é pecado de Israel ou de Judá, mas sim da vizinha Edom.
Apesar das poucas informações sobre a vida pessoal e o período em que viveu o profeta Obadias (aliás, Obadias era um nome comum em Israel e Judá. Basta lembrar que no relato sobre o profeta Elias em I Reis 18  há um copeiro de Acabe cujo nome também era Obadias), a maior parte dos comentaristas do Velho Testamento acredita que Obadias profetizou em algum momento após a queda de Judá, quando Jerusalém foi tomada pelos exércitos babilônicos e seu povo levado para o cativeiro. Na ocasião, Edom, nação vizinha de Judá, convicta de sua superioridade e invencibilidade, alegrou-se ao ver a desgraça do povo de Deus.
Os edomitas eram descendentes de Esaú, irmão de Jacó, pai da nação israelita. Assim, Obadias se indigna ao ver o escárnio dos edomitas em relação a um "povo-irmão".
A mensagem do livro é bastante clara: a soberba dos edomitas inevitavelmente os levaria à destruição. Percebemos nesta profecia duas coisas importantíssimas: a preocupação de Deus com as atitudes de uma nação estrangeira, gentílica, aponta para seu propósito redentor em prol de toda a humanidade.  Apesar de ser o Deus de Israel, o Altíssimo está atento ao que acontece em outras nações, pois seu propósito de salvação  envolve todos os povos (na lição da próxima semana, sobre o livro de Jonas, este aspecto será ainda mais destacado).
Um segundo aspecto diz respeito à perniciosidade do orgulho: Edom sentia-se seguro em sua habitação, em montes de região rochosa, local privilegiado para defesa em caso de guerra (vers. 3). No entanto, tais vantagens geográficas não seriam suficientes para preservá-lo do dia da destruição. Tanto isto é verdade, que as montanhas fortificadas de Edom hoje estão praticamente desertas. Isto vale uma reflexão: que valor existe no fato de depositar nossa confiança em nossas próprias forças e menosprezar os que estão em condições desprivilegiadas?
Assim como aconteceu com Judá, Edom arcaria com as consequências de seus atos. No entanto, acredito que o livro de Obadias aponta para uma reflexão, cuja resposta deve ser formulada pelo leitor: nos últimos versículos há uma promessa de que no futuro o povo de Israel restaurado governaria sobre outras nações a partir do Dia do Senhor. A pergunta que fica é: "como Israel deveria retribuir às ofensas de Edom, quando estivesse 'por cima' "?
A resposta que a Bíblia fornece a esta pergunta vai na contramão do senso comum que nos aconselha a celebrar nossa "virada" humilhando quem nos humilhou. Infelizmente, percebo que tal lógica aparece inclusive nas letras de algumas canções evangélicas que se dedicam a nos apontar o caminho para a "exibir nossa vitória" trazendo a tona uma série de sentimentos que beiram aos princípios da vingança. No entanto, o propósito de Deus em exaltar Israel não é para que a nação humilhe seus antigos adversários, mas que exerça misericórdia para com as tais, apontando para o caminho da graça divina. Como já disse, as profecias de Jonas, que estudaremos na próxima semana, também apontam neste sentido.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

31 de outubro: 495 anos de Reforma Protestante

Há exatos 495 anos, o monge alemão Martinho Lutero fixou na porta da Igreja de Witemberg na Alemanha um convite para o debate de 95 teses que escrevera a respeito de algumas posições então adotadas pela Igreja Católica referentes principalmente ao pagamento de indulgências por parte dos fiéis. Lutero também aproveitou para discutir alguns abusos e excessos cometidos pelo clero. As teses de Lutero causaram uma grande reviravolta em sua cidade e em seu principado, desencadeando os eventos que posteriormente seriam conhecidos como Reforma Protestante, que criaria a possibilidade para o surgimento de novas denominações cristãs independentes do catolicismo, sendo a primeira delas a Igreja Luterana. Com a Reforma abriram-se as portas para o surgimento das igrejas evangélicas.
O êxito do movimento de Lutero (que aliás, não pretendia causar nenhuma cisão na igreja, mas discutir seu ponto de vista com base nas Escrituras), deveu-se em grande parte à sua proposta de que os ensinos sagrados estivessem a disposição do povo. Tanto é que a Imprensa de tipos móveis, que permitia a reprodução de materiais escritos e que fora inventada algumas décadas antes, foi uma fortíssima aliada de Lutero em seu intento de colocar a Bíblia na mão do povo.
Já ouvi muitas pessoas dizendo que precisamos de uma nova Reforma na igreja evangélica brasileira. No entanto, nossos tempos são outros: em países como o nosso, onde há liberdade religiosa, a Bíblia está a disposição do povo
 Diferente do que acontecia na época, a Bíblia não é mais um monopólio da hierarquia da Igreja. Há Bíblias de todos os tipos e gostos: bíblias de estudo, com comentários, sem comentários, com as palavras de Jesus em vermelho, com tabelas, com capa-dura, com capa de couro, bíblias on-line, em aplicativos para celulares e tablets, etc....
Definitivamente o acesso ao conteúdo bíblico não é um problema no Brasil (digo isto levando em consideração que muitas pessoas não têm acesso à Bíblia por conta de sua condição financeira, já que a Bíblia é hoje um produto comercializado. No entanto, isto faz parte de um outro dilema.) Penso que nossa dificuldade não é com relação ao acesso, mas sim à nossa postura diante da Bíblia: a forma como nos apropriamos do texto, a forma como o lemos e nos relacionamos com ele. Infelizmente, uma leitura superficial e permeada por superstições de todo o tipo têm produzido uma série interpretações bíblicas que contribuem para o nosso afastamento do verdadeiro Evangelho.
Assim, penso que neste 495º aniversário da Reforma devamos lembrar que nos últimos cinco séculos esforços imensos foram feitos para que a Bíblia chegasse ao povo, como alardeava Lutero. Aproveitando-se disso devemos nos comprometer a um retorno à leitura pessoal, meditativa e coerente da Bíblia, uma leitura que nos leve a sermos críticos à forma injusta de pensar do mundo e que nos leve a buscar o caráter de Cristo em nós!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Amós, a justiça social como parte da adoração (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O estudo do livro de Amós é um tema bastante propício para a Escola Dominical deste 28 de outubro, dia em que 50 cidades do Brasil estarão envolvidas com o 2º turno das eleições para prefeito. Digo que o tema é propício pois as eleições costumam trazer à tona questões relacionadas à justiça social, mesmo que em muitos casos apenas por força do discurso.
Amós nos permite conhecer um pouco a respeito do que a Bíblia diz sobre o assunto da justiça social e como as atitudes religiosas podem contribuir tanto para aplacá-la quanto para acentuá-la . O profeta, embora oriundo do Reino do Sul (Judá) é direcionado por Deus para profetizar no Reino do Norte (Israel),  que então passava por um período de estabilidade econômica, haja vista Israel não estar envolvido em guerras contra outras nações neste período. Assim, a ausência de guerras lançou foco para um grave problema da nação: a cruel diferença entre ricos e pobres, marcada pela opressão social. Eugene Peterson* resume o período desta forma: "Os ricos tornaram-se muito ricos, enquanto as pessoas comuns se tornaram escravos e trabalhadores explorados. Os ricos davam glórias a Deus, gastando sem limites nos santuários para agradecer a ele (e a seus outros deuses) por tê-los abençoado. Amós avisou-os de que Deus iria esfacelar o país por causa da injustiça social que promoviam"
Assim, o problema apontado por Amós não é apenas o da injustiça social, mas o da injustiça social justificada pela religião. Um dos maiores opositores do profeta Amós foi justamente um sacerdote, Amazias, que estava em acordo com o rei Jeroboão II. Em mensagem enviada ao rei no capítulo 7 Amazias fala sobre uma suposta rebelião liderada por Amós e sobre o que ele andava profetizando em Israel e conclui dizendo que "a nação não poderia suportar as suas palavras". Considero esta declaração sensacional! Foi o reconhecimento de que a mensagem de Amós, se chegasse aos ouvidos do povo, traria complicações para a realeza. Amazias então insinua que Amós era um profeta "profissional" e lhe aconselha que vá "trabalhar" em outro lugar. A resposta dele foi: "“Eu não sou profeta nem pertenço a nenhum grupo de profetas, apenas cuido do gado e faço colheita de figos silvestres. Mas o SENHOR me tirou do serviço junto ao rebanho e me disse: ‘Vá, profetize a Israel, o meu povo’". A atitude de Amós, identificando-se como um homem comum, não tirando vantagem do fato de ter sido escolhido por Deus para profetizar em um "missão internacional" (já que não era de Israel, mas sim de Judá), tem muito a nos ensinar. A nossa contribuição para a busca da justiça social passa pelo caminho da simplicidade cristã, como nos ensinou o próprio Cristo quando por aqui passou! O problema é que o sentimento de Amazias e Jeroboão, interessados em utilizar a religião para fortalecer a injustiça da nação, e é claro, garantir seu espaço às custas do sofrimento alheio, é cada vez mais forte! concorda comigo?

Abraço a todos e todas e uma boa aula na Escola Dominical! 


*Comentário de Eugene Petersen  na introdução ao livro de Amós na Bíblia "A Mensagem"(Ed. Vida) 


Leia também: 





segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Lançamento: Evangélicos e Periferia Urbana em São Paulo e Rio de Janeiro


Foi lançado em Setembro de 2012 o livro "Evangélicos e periferia urbana em São Paulo e Rio de Janeiro: estudos de sociologia e antropologia urbanas". O livro pode ser adquirido no site da Editora CRV (clicando aqui
Organizado pelo Prof. Dr. Paulo Barrera do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo e com textos de Norbert Foerster, Wania Mesquita (UFNF), Marcos Ribeiro, Claudio Noronha, Haller Schünemann, Vlademir Ramos, Williani Carvalho, Edemir Antunes e com prefácio do Prof. Enzo Pace (Univ. de Padova), o livro é fruto dos trabalhos do Grupo de Pesquisas Religião e Periferia na America Latina Univ. Metodista / Fapesp)
O sexto capítulo é um texto de minha autoria onde falo sobre as igrejas pentecostais no bairro paulistano de Perus. 

Eis a sinopse do livro no site da Editora: 

A reflexão acadêmica sobre a presença de igrejas evangélicas pentecostais no meio urbano remonta a já clássica obra de Cândido Procópio Camargo nos anos 1970. O pentecostalismo funcionaria para ele como uma referência simbólico/social para populações que, fruto do êxodo rural, aportavam à cidade em situação de anomia e desenraizamento.
De lá para cá, com o adensamento populacional nas grandes metrópoles brasileiras, formaram-se imensas faixas de periferia ao redor destes centros urbanos, geralmente carentes dos serviços básicos de infraestrutura. Estudos demográficos como o Atlas de filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil de César Romero Jacob e equipe revelam que nesses espaços urbanos periféricos concentra-se um alto percentual de adeptos do pentecostalismo.
É sobre este fenômeno que muito oportunamente o livro Evangélicos e periferia urbana em São Paulo e Rio de Janeiro. Ensaios de antropologia e sociologia urbanas vem se debruçar. Evitando soluções fáceis, como a associação “naturalizada” entre pentecostalismo e pobreza, escudado em pesquisas de campo, entrevistas nas áreas periféricas e favelas do Rio e de São Paulo, revela toda uma complexidade de articulações entre a condição de morador de periferia e a pertença/preferência pentecostal. A escolha pentecostal aparece nas páginas deste livro em sua diversidade de alternativas, ora como instrumento de organização e contestação, ora como conformismo e utilitarismo.
Por fim, um livro produzido na interface entre uma sociologia/antropologia da religião com uma sociologia/antropologia urbana, onde ambas iluminam-se mutuamente, tendo como resultado uma análise densa desta realidade candente do Brasil contemporâneo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Revista Plura (da Associação Brasiliera de História das Religiões) lança novo número



A Associação Brasileira de História das Religiões acaba de lançar mais um número da Revista Plura, periódico on-line com publicações na área de ciências da religião, principalmente em história da religião. No número há uma seção temática sobre Teologia da Libertação com três artigos. Também há cinco artigos de temática livre.
Para quem se interessa pelo estudo acadêmico das diferentes religiões brasileiras, vale a pena conhecer este e outros números da Revista clicando aqui.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Joel: o derramamento do Espírito Santo (Série Profetas Menores na Escola Dominical)


O livro do profeta Joel é bastante conhecido por suas referências ao derramamento do Espírito Santo, o que de fato aconteceu a partir do Dia de Pentecoste. O capítulo 2 de Joel, inclusive, foi o texto-chave utilizado por Pedro durante a primeira pregação pública da História da Igreja. Na ocasião, Pedro soube identificar de imediato o cumprimento das profecias de Joel no evento que estava observando e participando. 
No entanto, antes de chegar às felizes promessas do capítulo 2, Joel traz uma dura repreensão à seus leitores. Embora haja discordâncias quanto ao período exato do ministério de Joel, há certeza quanto ao fato dele ter profetizado ao reino do sul, o reino de Judá. Boa parte dos intérpretes no Antigo Testamento identificam seu ministério durante o reinado de Joás, que sucedeu o desastrado reinado de Atalia, parente do idólatra Acabe do reino do Norte (o mesmo que chamou Elias de perturbador de Israel). 
Durante o ministério de Joel, Judá enfrentava uma crise sem precedentes ocasionada por uma catástrofe: um enxame de gafanhotos  havia devastado os campos de toda a nação. Joel liga tal calamidade à ação de Deus, no sentido de chamar a atenção de seu povo. 
Perceba: diferente de outros profetas menores, Joel não está advertindo o povo quanto às consequências do pecado. No seu caso, as consequências já tinham se manifestado e arrasado toda a nação. Assim, sua mensagem não mostra o que fazer para evitar o pecado, mas o que fazer depois que ele já mostrou suas garras e deixou sua dolorida marca. Assim, enquanto o capítulo um aponta para tais marcas, o capítulo dois mostra como a nação conseguiria "acertar seus ponteiros": o arrependimento sincero é o primeiro passo (cap 2.12-17), a partir de então, com um coração arrependido a nação poderia esperar pela restauração de sua terra (cap. 2.18-27) e então depositar sua esperança no dia em que Deus derramaria de Seu Espírito sobre toda a carne (cap. 2-28ss) e também no "dia do Senhor", quando Deus julgará toda iniquidade de seus inimigos (cap. 3)
Empobrecem o belo texto de Joel aqueles que associam as pragas de gafanhotos do 1º capítulo à demônios responsáveis por atuar na vida financeira dos crentes. O texto é muito mais rico e está falando de fidelidade entre Deus e seu povo e sobre as consequências ao ato de abandonar a proteção do Senhor. Embora  as consequências para Judá tenham sido econômicas (já que campos destruídos arrasariam toda sustentação econômica de uma nação agrícola e pastoril, como era Judá), o foco está no que isto representava para a relação entre Deus e seu povo, e como isto se projetaria nas esperanças futuras da nação. 
Creio que a principal lição que Joel nos deixa é: "como nós, que já recebemos o Espírito Santo, tal qual anunciado no Pentecostes, lidamos com as situações em que o pecado nos leva para longe de Deus?"

Um abraço a todos e todas e uma boa aula na Escola Dominical!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Oseias: a fidelidade no relacionamento com Deus (Série Profetas Menores na Escola Dominical)*

Sem dúvida alguma a maior discussão presente no estudo do livro de Oseias é o seu casamento. De acordo com o texto bíblico, o profeta recebeu uma ordem divina para que se casasse com uma prostituta (Os 1.2). Diversas tentativas foram feitas por intérpretes bíblicos no sentido de provar que o casamento do profeta com Gômer tratou-se na realidade de uma alegoria, já que ficaria difícil entender o porquê de Deus ordenar algo deste tipo. Há inclusive uma teoria de que a mulher seria uma prostituta religiosa, ou seja, uma adoradora de falsos ídolos, que fora resgatada por Oseias e não uma prostituta no sentido literal da palavra. Tais teorias, no entanto, enfraquecem o impacto que a informação do casamento de Oseias causa no leitor.
De qualquer forma, a leitura dos primeiros capítulos de Oseias nos chocam: Deus manda um profeta casar-se com uma prostituta, ele se casa e tem três filhos com ela. A seguir, ela o abandona, volta a prostituir-se, cai em profunda pobreza, é obrigada a vender-se como escrava e Oseias, em um ato deliberado de amor a compra e a restabelece como sua esposa. Há que acredite  que o segundo e o terceiro filho de Gômer tenham sido gerados durante a traição, não sendo filhos legítimos do profeta. No entanto, se assim for, Oseias também os adota. Assim, uma coisa é certa: apesar de sentirmos estranheza do complicado casamento do profeta, podemos ter certeza que Oseias amava verdadeiramente e intensamente sua infiel esposa, assim como Deus jamais deixou de amor seu povo, a nação israelita.
O desastroso relacionamento de Oseias e Gômer é um retrato do amor de Deus para com Israel: a prostituição é comparada à adoração de Israel a outros deuses. O povo escolhido atribuía à Baal os atos misericordiosos de Deus, provocando profunda tristeza no coração do Criador. A experiência de Oseias o credencia para formular as belas metáforas com que descreve o sentimento de Deus para com seu povo, como esta, do capítulo 11: " Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei a meu filho. Mas, como os chamavam, assim se iam da sua face; sacrificavam a baalins, e queimavam incenso às imagens de escultura. Todavia, eu ensinei a andar a Efraim; tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre as suas queixadas, e lhes dei mantimento...".
Assim, o livro de Oseias aponta para um Deus preocupado com nossas atitudes quando o deixamos, um Deus que permanece fiel apesar de nossa infidelidade. Um Deus cujo desejo maior é ser conhecido pelos seus seguidores. Conhecimento no livro de Oseias é sinônimo para comunhão e intimidade, e a falta de tais predicados entre os israelitas os levou à destruição, por isto Oseias vocifera que o povo de Israel seria destruído por falta de conhecimento (Os 4.6), o que de fato aconteceu, já que logo após o término do longo ministério de Oséias, Israel, o reino do Norte foi levado para o cativeiro assírio.
A profecia de Oseias rompe com a falsa ideia de que o Deus apresentado no Velho Testamento é um Deus distante, enfurecido e sem amor. O Senhor apresentado por Oseias é o próprio amor e sente profundamente pelo caminho escolhido por seus filhos, caminho que levou Israel a destrutivas consequências.


"o SENHOR ama os filhos de Israel, embora eles olhem para outros deuses" (Os 3.1) 


Para conhecer mais sobre o livro de Oseias, recomendo o livro "Introdução ao Antigo Testamento" (Willhan LaSor, David Hubbard e Frederic Bush), publicado em português pela Editora Vida Nova.  

Abraço a todos e todas! 


*O livro de Oseias será estudado no dia 14 de outubro de 2012 nas Escolas Dominicais do país que utilizam a Revista da CPAD. 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

#Podcast 01: Na presença dos deuses (Sl 138)

Clique no player abaixo e acompanhe a nossa reflexão com base no Salmo 138. Aproveite e deixe também o seu comentário! 

Forte abraço!