segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O ano, segundo Carlos Drummond de Andrade

Cortar o tempo 

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) 


sábado, 29 de dezembro de 2012

Malaquias: a sacralidade da família (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

"Dízimo". Eis a primeira palavra que vem a mente quando pensamos no livro de Malaquias. De fato, Ml 3.10 tornou-se um texto amplamente conhecido e exaustivamente repetido (por vezes de forma descontextualizada) em púlpitos de todo o país. No entanto, o conhecimento de Ml 3.10 é proporcional ao desconhecimento de outras igualmente importantes passagens do livro.

No livro de Malaquias, o último dos profetas menores e último também de nosso Antigo Testamento, na Bíblia Hebraica a ordem dos livros é outra, já estão superados os problemas de desânimo e falta de perspectiva do povo judeu recém saído do exílio, temas taxativamente abordados por Ageu e Zacarias.

Cabe aqui uma palavra sobre a identidade de Malaquias. O profeta pode ser um pregador anônimo, já que o nome Malaquias quer dizer "mensageiro". Tal teoria é reforçada pela falta de referências à família e à origem do profeta. No entanto, uma outra vertente entende que Malaquias é de fato o nome do mensageiro.

Na época de Malaquias (sendo ou não este o seu nome de fato) o templo já estava reconstruído e o sistema religioso  já tinha voltado a funcionar, inclusive com a realização dos sacrifícios descritos no livro de Levítico. Assim, com a solução do problema da idolatria (como comentamos na postagem anterior) e do difícil retorno à vida religiosa cotidiana, parece-nos que as constantes crises dos israelitas em seu relacionamento com Deus estavam por fim resolvidas.

Será?

Malaquias mostra que não. O livro começa com uma forte repreensão divina quanto à forma como estavam acontecendo os sacrifícios no templo. Não existia preocupação quanto à qualidade das ofertas. O culto tinha se transformado em mera rotina e os rituais eram realizados apenas para "cumprir tabela".

A corrupção reinante entre os sacerdotes é o tema do segundo capítulo. Ali também aparecem repreensões quanto a falta de importância demonstrada para com as relações familiares (tópico escolhido pela CPAD como tema para a aula de domingo) e ao sentimento de "superioridade espiritual" de Israel em relação a outros povos.

No capítulo 3 os sacerdotes são novamente questionados. O tema do dízimo aparece relacionado ao mal direcionamento das ofertas apresentadas no templo. Segundo a lei, os sacerdotes deveriam separar dez por cento do que recebiam para seu sustento como oferta ao Senhor (era o "dízimo do dízimo"),  no entanto não era o que estava acontecendo: as ofertas devidas não estavam chegando ao seu destino, mostrando mais uma vez o descaso dos sacerdotes para com o serviço do templo. Há quem chegasse a dizer: "É inútil servir a Deus" (Ml 3.14)


Assim, o livro de Malaquias aponta um sistema religioso baseado na mera formalidade, onde os verdadeiros objetivos do culto não eram alcançados (tema já abordado séculos antes por outros profetas, como Amós). Perceba aqui mais uma vez a atualidade das mensagens dos profetas menores.

No entanto, apesar dos pesares a esperança está presente.

Deus demonstra conhecer intimamente seus fiéis servos, o "remanescente fiel". Para estes, "nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas" (Ml 4.2)

O livro termina apontando para o futuro. Nos últimos versículos há referência ao "profeta Elias", mensageiro que, com qualidades semelhantes as de Elias, prepararia o coração do povo para o Dia do Senhor. Tal profecia cumpriria-se cerca de 400 anos depois na figura de João Batista, o precursor daquele que estabeleceria a justiça e disponibilizaria a salvação eterna a todos os povos: Jesus, o Cristo.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Zacarias: o reinado messiânico (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O livro de Zacarias a princípio nos assusta. Diferente dos outros dez profetas menores estudados até agora, boa parte de suas profecias surge sob a forma de visão. Desta forma, a linguagem simbólica é essencial para compreendermos seu conteúdo. Conhecer o contexto histórico de Zacarias nos ajuda a exterminar o receio de nos aproximarmos deste livro, que considero fascinante!

O contexto de Zacarias é o mesmo do profeta Ageu (estudado semana passada), um período de muitas interrogações e incertezas para os judeus que aos poucos instalavam-se em sua terra após os 70 anos de cativeiro babilônico.

Apesar do fim do cativeiro babilônico, os judeus não voltaram a ser uma nação independente, já que estavam agora debaixo do governo persa, que apesar de mais tolerante quanto à liberdade religiosa dos povos dominados, não deixava de ser um império opressor. Assim, as dúvidas ainda prevaleciam: será que a  punição divina havia terminado? Será que os persas continuariam a ser benevolentes? Valia a pena reerguer o templo? Deus estaria com o povo novamente?

Além da resposta de Ageu ao desânimo do povo, o profeta Zacarias também dedica seu ministério ao incentivo quanto à reconstrução do templo, bem como à reorganização do sistema religioso judaico.

O livro de Zacarias é dividido em duas partes. A primeira delas compreende os capítulos de 1 a 8 e consiste em uma série de oito visões sobre o restabelecimento do povo de Deus em sua terra.

As visões apresentam símbolos que vivificam a mensagem de Zacarias. Vou citar como exemplo a segunda visão (cap. 1.18-21), em que o profeta se vê diante de quatro chifres e quatro ferreiros. O próprio texto apresenta a interpretação: os chifres (como normalmente acontece no Antigo Testamento) simbolizam força e poder. Assim, os quatro chifres simbolizam os impérios que até aquele momento "atrapalharam" a vida de Israel. No entanto, os quatro chifres seriam "amedrontados" pelos quatro ferreiros. Ou seja, de uma forma simples Deus diz ao povo que não deveriam mais temer as nações estrangeiras.

Josué e Zorobabel, líderes nativos do povo, são personagens fundamentais nas visões de Zacarias. Na quinta visão isto é evidente, já que ali os dois personagens são representados por duas oliveiras entre um candelabro de ouro (cap 4). Caso surgisse alguma dúvida quanto à aprovação de Deus ao sumo sacerdote Josué, a comovente visão de sua purificação (cap 3) apresenta a preocupação divina neste ponto. Vale a pena lembrar que no final do livro de Ageu Zorobabel é apresentado como o anel de selar de Deus (veja a postagem sobre Ageu)

Na segunda parte do livro de Zacarias (capítulos de 9 a 14), as referências à Zorobabel e Josué não são tão frequentes. No entanto, tais capítulos estendem as promessas divinas para um período futuro em que um descendente de Davi estabeleceria o reino divino de maneira plena, exterminando os dissabores da nação israelita. O livro está "recheado" de profecias aplicadas ao futuro ministério do Senhor Jesus Cristo: sua entrada triunfal em Jerusalém (Zc 9.9 --> Mt 21.5); as trinta moedas da traição (Zc 11.12-13 --> Mt 26.14-16); a fuga dos discípulos (Zc. 13.7 --> Mt 26.31); seu lado traspassado (Zc 12.10 --> Jo 19.34-37; Ap 1.7), dentre outras*.

Outra característica da segunda parte de Zacarias é a constante crítica aos pastores infiéis de Jerusalém. Assim, a mensagem de consolo ao povo é evidente: ainda que os futuros líderes falhassem, a fidelidade divina permaneceria e o Messias surgiria, aniquilando os poderes do mal e estabelecendo seu reino de glória e poder. Posteriormente, o Messias nos ensinaria que, antes de nos preocuparmos com suas dimensões políticas, devemos entender que tal reino começa dentro de nossos corações... este é um assunto para postagens futuras.

Abraço a todos e todas e boa aula!


sábado, 15 de dezembro de 2012

Ageu: o compromisso do povo da aliança (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

O livro de Ageu inaugura uma nova fase no ministério profético israelita.

A partir de então não vemos mais repreensões contra a idolatria, até porque o cativeiro "curou" Israel deste mal (vale a pena lembrar que agora o antigo reino do sul, Judá, que foi para o cativeiro babilônico e após 70 anos regressou para sua terra voltou a ser chamado de "Israel").

 Diferente dos babilônicos, os persas, que agora dominavam os israelitas, eram bastante tolerantes em relação ao sistema religioso dos povos dominados, tanto é que Ciro, rei dos persas, incentivou o retorno dos exilados e a reconstrução do templo em Jerusalém.

Os problemas pelos quais Israel passava na época de Ageu são diferentes daqueles vistos pelos profetas que o sucederam .Ao se restabelecerem em sua terra os judeus tinham o difícil desafio de redefinir sua identidade, começando "do zero" não apenas a construção do templo, mas todo o sistema religioso em torno dele.

O primeiro grupo de judeus que voltou à Jerusalém reiniciou a construção do templo, no entanto, as obras foram paralisadas ainda em seu início, já que o entendimento geral era que o novo templo jamais seria como o majestoso e glorioso templo de Salomão destruído pelos babilônicos. Assim, preferiu-se dar prioridade à reforma das casas dos judeus que retornavam.

A mensagem de Ageu vai de encontro a este sentimento de desânimo frente ao desafio do recomeço. Para os judeus que conheceram o antigo templo de Salomão, não era nada fácil começar a construir um novo templo:

‘Quem de vocês viu este templo em seu primeiro esplendor? Comparado com ele, não é como nada o que vocês vêem agora?
"Coragem, Zorobabel", declara o Senhor. "Coragem, sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque. Coragem! Ao trabalho, ó povo da terra! ", declara o Senhor. "Porque eu estou com vocês", declara o Senhor dos Exércitos.
Esta é a aliança que fiz com vocês quando vocês saíram do Egito: "Meu espírito está entre vocês. Não tenham medo 
(Ag 2.3-5 - NVI)

A promessa de Deus é clara: o Senhor estava disposto a ajudá-los desde que seus corações se dispusessem  ao trabalho da reconstrução. Quanto às comparações com o antigo templo, que provocavam o sentimento de letargia no povo, Deus propõe uma nova comparação, desta vez surpreendente, que tornou-se no mais conhecido versículo de Ageu: "A glória da segunda casa [ou seja, do novo templo], será maior que a da primeira [ou seja, do majestoso templo de Salomão]" - Ag 2.9. 

Quanto à Zorobabel, líder judeu, Deus faz uma promessa particular: "eis que te farei como um anel de selar" (Ag 2.23). Zorobabel era descendente de Davi, portanto herdeiro do trono de Israel caso a nação se torna-se novamente independente (como era na época de Davi e Salomão). Assim, ao mostrar sua preocupação com Zorobabel e apontá-lo como um agente executor de sua vontade, Deus estava mostrando sua fidelidade para com as promessas feitas à linhagem de Davi, que apontavam para o Messias restaurador: o Cristo. 

Assim, o livro de Ageu lança luz sobre os momentos em que o recomeço após um período de dor parece impossível e quando o futuro apresenta-se incerto. Nestes momentos a esperança nascida das promessas divinas deve ser combustível para a recuperação do ânimo perdido. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Revista Estudos de Religião lança número dedicado a obra de Émile Durkheim

Em 1912, o francês Emile Durkheim, considerado um dos pais da sociologia, publicou o clássico As formas elementares de vida religiosa. O livro tornou-se uma das mais importantes obras de sociologia da religião já escritas, abrindo espaço para a abordagem científica do fato social religioso. Suas teorias inspiraram um sem-número de pesquisas sobre religião em diversas regiões do mundo.


Para comemorar o centenário de publicação das Formas elementares de vida religiosa, a tradicional revista Estudos de Religião do Programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo lançou um número especial dedicado integralmente às contribuições e controvérsias do clássico. A Revista (nº 26 / Vol. 42) foi divulgada nesta terça-feira (dia 11/12) e conta com a participação de pesquisadores do Brasil, Itália, Chile e Perú.

O número foi organizado pelo Prof. Dr. Paulo Barrera e conta com artigos dos Profs. Silas Guerriero (PUC-SP), Enzo Pace (Univ. de Padova - Itália), Dorothea Ortmann (Univ. Nacional Mayor de San Marcos - Lima - Perú), Ana Keila Pinezi e Érica Jorge (UFABC), Ricardo Bitun (Mackenzie), João Clemente de Souza Neto (UNIFIEO / Mackenzie), Bernardo Guerrero Jimenez (Universidad Católica del Norte - Chile), Menara Guizardi (Univ. de Tarapacá - Chile), Edemir Antunes Filho (Univ. Metodista) e Elisa Rodrigues (Doutoranda - UNICAMP) e Maxwell Fajardo (Doutorando - UNESP).

A Revista está disponível nas versões impressa e eletrônica (disponível gratuitamente aqui)  

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Evangélicos são tema de capa da Revista de História da Biblioteca Nacional


Não há dúvidas de que o movimento evangélico está em evidência no Brasil. Os números do último Censo apontando a quantidade de fiéis em 42 milhões,  o espaço que a música e a cultura gospel vem conquistando na mídia, bem como o debate de temas religiosos ditando a tônica de campanhas eleitorais têm despertado o interesse de pesquisadores de diversas áreas.

Atendendo a esta demanda, a Revista de História da Biblioteca Nacional reservou a matéria de capa de sua edição do mês de dezembro para o dossiê temático Evangélicos: a fé que seduz o Brasil. A RHBN  reúne mensalmente matérias e artigos de mestres e doutores de conceituadas universidades brasileiras elaborados para atender não apenas a universitários e especialistas em história, mas ao grande público em geral. O dossiê foi organizado pela historiadora Nashla Dahás, doutoranda em história pela UFRJ.

A imagem de capa "Mulher dançando no Espírito" (do acervo do "Centro de Estudos do Movimento Pentecostal") foi comentada pela Profª Karina Bellotti, da Universidade Federal do Paraná, conhecida pelos seus estudos na área de mídia evangélica no Brasil. No site da Revista é possível acompanhar uma entrevista com a Profª Karina.

O dossiê conta com uma reportagem de Alice Melo sobre a cultura dos evangélicos no Brasil, acentuando as mudanças ocorridas no movimento nas últimas décadas. A seguir, o artigo de Silvia Patuzzi (PUC-RJ) resgata as origens do movimento evangélico nas teorias de Martinho Lutero na Europa do século XVI. O texto de Angelo Adriano Faria de Assis (UFV) trata do estabelecimento das primeiras igrejas evangélicas no Brasil nas primeiras décadas do século XIX.
Marcos Alvito (UFF) fala sobre a presença pentecostal nas regiões de periferia das grandes metrópoles, enquanto Ricardo Mariano (PUC-RJ), principal responsável pela disseminação do termo neopentecostal no Brasil, aborda a relação entre religião e política observando a atuação dos parlamentares da bancada evangélica.

Os textos de Eduardo Refkalefsky (UFRJ) e Orivaldo Pimentel Lopes Junior (UFRN) fecham o dossiê ao comentarem as estratégias (conscientes ou não) de crescimento dos pentecostais no Brasil.

A Revista é uma excelente indicação para quem deseja se aproximar desta área de estudos cada vez mais complexa e intrigante. Mais informações podem ser obtidas no site da Revista. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

#Podcast 02: Qual era a ovelha?


O ser humano tem o "vício" de classificar as pessoas. Quem já não se sentiu menosprezado ao ser comparado com outra pessoa considerada melhor?
 Nossa sociedade é "expert" na "arte" de excluir pessoas. 
O problema da exclusão foi abordado nos ensinamentos de Cristo? 
O que Jesus pensava a respeito do assunto? 
No podcast a seguir falamos sobre o tema em poucos minutos. 
Para ouvir basta clicar no player:  

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sofonias: o juízo vindouro (Série Profetas Menores na Escola Dominical)

Qual foi a última pregação que você ouviu sobre o livro de Sofonias?

Na aula introdutória que tivemos sobre os Profetas Menores na Escola Dominical, fiz esta pergunta aos meus alunos. Ninguém se lembrou de ter ouvido algo sobre o profeta Sofonias. Confesso que eu também nunca preguei ou me lembro de ter ouvido alguém pregar sobre este "desconhecido profeta".

De fato o livro de Sofonias foge do  habitual, por conta da vivacidade com que as profecias são expressas. As figuras de linguagem usadas no livro não são estão ali para suavizar uma mensagem forte, mas para deixá-la mais forte ainda. O segundo versículo do livro já mostra o tom da mensagem : "Hei de consumir por completo tudo de sobre a terra, diz o SENHOR". Os dois primeiros capítulos e mais da metade do terceiro tratam de destruição e juízo!

Sofonias profetizou em Jerusalém logo após os reinados de Amon e Manassés, que figuram no topo da lista dos piores reis que Judá já teve. Ao que tudo indica, a grande Reforma da época do rei Josias ainda não tinha acontecido. Já faziam 55 anos que não se ouviam vozes de profetas como Naum, Miquéias e Isaias. Além disso, a injustiça social, a idolatria e as diferentes espécies de iniquidades se multiplicavam a um nível assustador!

Atitudes pecaminosas extremas exigiam repreensões extremas e Sofonias cumpriu corajosamente este papel.

O anúncio de Sofonias sobre a destruição de Jerusalém cumpririam-se algumas décadas mais tarde com a invasão dos exércitos babilônicos.

Tão duro juízo justifica-se por pelo menos dois motivos: os oprimidos, aqueles que não tinham ninguém por si e que durante décadas sofreram sem qualquer direito assegurado não podiam continuar vendo o triunfo de seus algozes. Note que nas Escrituras há sempre uma atenção especial de Deus pelo "orfão e pela viúva", ou seja, por aqueles que não têm ninguém que possa reclamar seus direitos. Deus preocupa-se com a situação dos desamparados.

A justiça faz parte do caráter divino. Note, por exemplo, que a graça de Deus revelada em Cristo é a concretização da justiça de Deus em nosso favor a partir do momento que Jesus levou nossa culpa. Ou seja, nossos pecados foram julgados em Cristo.

Em um segundo aspecto sobre a justiça de Deus em Sofonias devemos nos lembrar das inúmeras advertências que outros profetas já haviam apresentado. Devemos nos lembrar também que Judá tinha também o exemplo do Reino do Norte, já levado ao cativeiro pelos Assírios.

Assim, as repreensões de Sofonias devem ser entendidas dentro de um processo mais amplo de correção por parte de Deus. Processo iniciado há séculos, já que no pentateuco já há advertências neste sentido.

Vejo o juízo de Deus em Sofonias como a aplicação de um duro castigo por parte do pai a um filho a quem diversas tentativas de aconselhamento e sanções menores já foram feitas. Na realidade, por difícil que possa parecer, tal castigo origina-se no desejo da proximidade. Tal castigo, por paradoxal que seja, origina-se no amor.

Tal evidência é clara no final do livro de Sofonias, quando se fala do perfeito relacionamento de Deus com o "remanescente fiel", aquele que após passar pelo juízo consegue compreender a intenção maior de Deus e descobre seu caráter justo e amoroso. O contraste é tão grande que, segundo Myer Pearlman, há quem duvide que o mesmo Sofonias que escreveu as catastróficas mensagens dos dois primeiros capítulos tenha terminado o livro de modo tão terno.

No entanto, o contraste tem um objetivo: mostrar que o juízo é fruto do zelo de um Deus amoroso (Sf 3.8), cujo desejo é estar próximo dos seus:


Naquele dia se dirá a Jerusalém: "Não tema, ó Sião; não deixe suas mãos enfraquecerem.
O Senhor, o seu Deus, está em seu meio, poderoso para salvar. Ele se regozijará em você, com o seu amor a renovará, ele se regozijará em você com brados de alegria".
"Eu ajuntarei os que choram pelas festas fixas, os que se afastaram de vocês, para que isso não mais pese como vergonha.
Nessa época agirei contra todos os que oprimiram vocês; salvarei os aleijados e ajuntarei os dispersos. Darei a eles louvor e honra em todas as terras onde foram envergonhados.
Naquele tempo eu ajuntarei vocês; naquele tempo os trarei para casa. Eu lhes darei honra e louvor entre todos os povos da terra, quando eu restaurar a sua sorte diante dos seus próprios olhos", diz o Senhor. 


Na próxima semana saltaremos para o livro de Ageu, que profetizou após o cativeiro babilônico. Entre outras coisas, será possível observar quais marcas o juízo divino  deixou no povo de Deus. 

Abraço a todos e todas!