quarta-feira, 19 de junho de 2013

Paulo e a Igreja em Filipos (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fil 1.1-11



A carta de Paulo aos Filipenses é nutrida por sentimentos de proximidade em meio a distância. Os primeiros versículos mostram uma profunda afeição entre Paulo e seus leitores. Esta afeição é fruto de uma história antiga envolvendo o apóstolo e os crentes da cidade de Filipos.

Assim, creio que antes de falar sobre a carta aos filipenses, devemos voltar nosso olhar ao livro de Atos dos Apóstolos (cap. 16), onde a história de Paulo na cidade começa. Na ocasião Paulo, acompanhado de Silas, realizava sua segunda viagem missionária. No entanto, não estava em seus planos ir à Macedônia, distrito cuja principal cidade era Filipos. Paulo queria ir à Ásia e depois à Bitínia, porém nos dois casos, "o Espírito do Senhor não permitiu" (At 16.6,7). Foi então que o apóstolo teve uma visão em que um jovem macedônio lhe pedia ajuda. Assim, a ida de Paulo para Filipos aconteceu sob circunstâncias não comuns. Em sua passagem pela cidade contou com a companhia de Silas e Lucas, o escritor de Atos dos Apóstolos.

Filipos era uma importante cidade no Império Romano, uma das poucas a receber o título de colônia romana. Diferente do que normalmente acontecia, a aproximação de Paulo com os moradores da cidade não aconteceu na sinagoga, mas a beira de um rio, onde os judeus costumavam orar (ao que parece, a comunidade judaica não era muito grande na cidade). A primeira pessoa a receber o Evangelho foi Lídia, uma comerciante que teve destaque na formação da igreja de Filipos.

Na cidade, dois outros eventos conhecidos no ministério de Paulo tiveram lugar: o primeiro deles foi a expulsão do espírito de adivinhação de uma jovem, que devido as suas "habilidades", costumava dar muito lucro aos seus senhores. O fato levou Paulo e Silas à prisão, após serem açoitados publicamente. Lá, aconteceu o segundo evento de destaque: o terremoto na prisão, que aconteceu quando Paulo e Silas cantavam, perto da meia-noite (abro aqui um parenteses para lembrar que o terremoto não aconteceu para que os missionários fossem libertos da prisão, mas para permitir que o carcereiro e sua família se convertessem. Depois de pregarem para eles, Paulo e Silas voltaram à prisão e foram soltos apenas no outro dia, por ordem das autoridades da cidade. Creio que este poderá ser o tema para um próximo post).

A cidade de Filipos era bastante identificada com os valores e religiões romanas. Ao ser preso, Paulo e Silas foram acusados de perturbarem a cidade com costumes judaicos. O magistrados se espantaram ao descobrirem que Paulo também era romano, e por isto os soltaram.

Quanto à comunidade cristã que se formou em Filipos, os relatos são bastante positivos: em At 16, os irmãos reunidos na casa de Lídia confortaram Paulo e Silas após sua prisão. Em outras ocasiões contribuíram financeiramente com os irmãos necessitados da Judéia e posteriormente sustentaram também o próprio apóstolo Paulo.

Assim, quando Paulo escreve sua carta aos filipenses é bem provável que em sua mente estivessem as lembranças de todos estes momentos. De fato, quando a carta foi escrita, Paulo tinha acabado de receber uma contribuição generosa dos irmãos de Filipos, enviada por intermédio do irmão Epafrodito, que acabou ficando doente, quase chegando à morte.

A carta aos filipenses teve desta forma três objetivos práticos: tranquilizar os irmãos quanto à saúde de Epafrodito, recomendar Timóteo aos irmãos (ele iria para lá e é possível que a igreja ainda não o conhecesse bem) e mostrar sua gratidão pelo apoio constante daquela comunidade e em especial pela contribuição recebida. S.E. McNair chama a carta de recibo, "o mais belo recibo de toda a literatura"  

Não há concordância quanto ao local de escrita da carta, embora não haja dúvidas de que Paulo a escreveu enquanto estava preso (ele diz isto categoricamente). Paulo informa ter sido preso várias vezes (Clemente de  Roma, no fim do século I, afirmou que ele ficou encarcerado sete vezes), no entanto, enquanto escrevia aos filipenses, Paulo conseguia interagir com as igrejas e até receber visitas. Tais condições reforçam a ideia de que a carta foi escrita em Roma, enquanto Paulo estava em prisão domiciliar, esperando seu julgamento final (At 28).

Assim, mesmo encarcerado e certo de sua condenação, Paulo não deixou de celebrar a amizade e o carinho que nutria para com os filipenses, e escrever a sua mais alegre carta. Isto não o impediu, no entanto, de tratar de problemas pontuais naquela comunidade, como veremos nas próximas semanas.

Abraço a todos e todas.

Referências: 
CARSON, D.A; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Inttrodução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997
McNAIR, S.E. A Bíblia Explicada. 4ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1997


Nenhum comentário:

Postar um comentário