sábado, 27 de julho de 2013

Na periferia do Rio de Janeiro papa visita a Assembleia de Deus.

Durante sua visita à favela de Varginha, no complexo de Manguinhos no Rio de Janeiro no último dia 25, o Papa Francisco visitou um templo da Igreja Assembleia de Deus.

De acordo com o padre Márcio Queiróz, que acompanhou o papa na favela, Francisco estava passando em frente à Igreja e quando soube que havia um grupo de crentes lá dentro pediu para entrar, pois queria cumprimentá-los. O papa conversou por alguns instantes com o pastor e convidou a todos os presentes para rezarem o Pai Nosso. O porta-voz do Vaticano, o padre Frederico Lombardi, confirmou a informação.

O ato de visitar um templo pentecostal na periferia tem um significado simbólico bastante forte. Os pentecostais são o grupo religioso que mais cresce nas regiões pobres das grandes cidades latino-americanas. As igrejas evangélicas fazem parte da paisagem urbana das favelas e bairros mais pobres das metrópoles, onde formam redes de solidariedade entre os moradores que se convertem. Estas mesmas regiões têm ocupado lugar de destaque nos discursos do papa, que também é latino-americano.

A visita de Francisco à Assembleia de Deus abre a oportunidade para a reflexão sobre o papel que as igrejas tem ocupado no cotidiano das comunidades carentes do país, e como estas se apresentam diante do olhar de outras religiões.


Com informações da agência EBC

Atualização em 2/8/2013: 

Por mais que se procure na internet, não se conseguiu encontrar sequer uma foto ou filmagem do momento em que o papa conversou com os membros da Assembleia de Deus. No entanto, há uma entrevista com um dos pastores que o recepcionou. Diferente do que informamos antes, Francisco não entrou na igreja, mas pediu para orar com os irmãos. Veja o vídeo: 




sexta-feira, 26 de julho de 2013

Seminário "Religiões e Religiosidades no Mundo Contemporâneo na UNESP de Marília.


O programa de pós-graduação em Ciências Sociais da UNESP de Marília promoverá entre os dias 29 e 30 de agosto o seminário "Religiões e religiosidades no mundo contemporâneo". O evento contará com a presença dos seguintes debatedores: Profs. Drs. Dra. Brenda Carranza (PUC-Campinas,SP), Flavio Sofiati (UFG-GO), Fabio Lanza (UEL-PR), Donizete Rodrigues (UBI, Portugal), Emerson Sena (UFJF-MG) e Antonio Braga (FFC-UNESP, SP). Os interessados em enviar seus resumos para apresentação nos GTs deverão fazê-lo até o dia 4 de agosto.

Maiores informações podem ser adquiridas no Blog do evento ou em sua Fan-page no facebook.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ed René Kivitz participa de programa de entrevistas na TV Bandeirantes

Programa Claquete (Foto Blog Mundo Cristão)
Na madrugada do dia 23 de julho, o Pr. Ed René Kivitz, da Igreja Batista de Água Branca e do Forum Cristão de Profissionais participou do programa Claquete, apresentado por Otávio Mesquita na TV Bandeirantes. A entrevista foi motivada pelo interesse do programa em discutir o tema religião, tendo em vista a visita do papa Francisco ao Brasil.

Durante quase cinquenta minutos o pastor respondeu perguntas sobre teologia, política, religião, história do cristianismo, crescimento evangélico, fé e religiosidade, vindas tanto do apresentador quanto do público. A primeira delas foi: "Quem é Deus?", passando por perguntas como "é perigosa a proximidade entre fé e política?" e terminando com "qual sua postura com relação a temas como aborto e homossexualismo? "

Vale a pena acompanhar a entrevista, que está na íntegra no link abaixo:




quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os "sem religião" do Brasil ganham destaque em jornais da Europa.

Capa do jornal belga Le Soir
Não é segredo para ninguém que o panorama religioso do Brasil tem mudado nas últimas décadas. Os principais aspectos de tal mudança são o declínio do catolicismo e o crescimento acentuado do número de evangélicos (em especial pentecostais). Os números de cada novo Censo apontam para isto (veja em nosso blog aqui e aqui).

No entanto, um grupo que têm aumentado a cada novo Censo e que nem sempre é percebido de forma muito clara é daqueles que se denominam "sem religião". Note que aqui não estamos nos referindo necessariamente a ateus ou agnósticos, mas àqueles que optaram por não estarem sob a tutela de determina instituição religiosa. De acordo com o Censo 2010, este número já alcança 8% da população brasileira. Entre 2000 e 2010 os sem religião tiveram um crescimento de 2,8 milhões de pessoas, totalizando atualmente mais de 15 milhões (destes "apenas" 615 mil se declaram ateus e 124 mil agnósticos).

Ontem, dia 23 de julho, três jornais europeus publicaram matéria sobre o perfil do grupo dos "sem religião" no Brasil. A matéria foi feita pela repórter Chantal Rayes, correspondente de São Paulo do jornal francês Libération. A matéria faz parte da cobertura européia da presença do papa Francisco no Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Além do Liberátion, a matéria também foi reproduzida no Le Temps, da Suiça e Le Soir, da Bélgica.

Paul Freston (foto: divulgação)
Foram entrevistados  os professores Paul Freston (doutor em sociologia pela UNICAMP e professor da UFSCar) e Dario Paulo Barrera Rivera (Doutor em Ciências da Religião pela Univ. Metodista de São Paulo e professor da mesma Universidade). Freston declarou que os sem religião "são pessoas que mantêm a fé, ou pelo menos uma forma de espiritualidade, mas rejeitam rótulos religiosos. São a expressão de uma crise geral das instituições que não poupa as Igrejas". 

O professor Paulo Barrera destacou que o grupo dos sem religião não é meramente uma expressão das camadas mais ricas da sociedade, mas que se manifesta com intensidade nas regiões de periferia das grandes metrópoles, também entre pessoas com pouca escolaridade. Nestes espaços as igrejas pentecostais também aparecem com vigor. O professor destacou ainda que o fenômeno dos sem religião também está presente em outros países da América Latina, como Chile, Argentina e Uruguai.

O interesse de um jornal francês sobre o tema reflete um processo que é percebido com maior intensidade nos países europeus: a perca da centralidade das instituições religiosas na pós-modernidade. O livro da pesquisadora francesa Daniele Herviéu-Léger, O peregrino e o convertido (publicado no Brasil pela Paulinas) retrata esta questão e tornou-se referência para o estudo do tema.

Paulo Barrera (foto: Alex Fajardo)
Vale a pena lembrar que o professor Paulo Barrera, que foi entrevistado na matéria, coordena o Grupo de Pesquisas Religião e Periferia na América Latina (REPAL) que reúne pesquisadores de diferentes instituições que se debruçam sobre o estudos das formas de manifestação religiosa nas periferias das metrópoles latino-americanas. Marcos Nicolini, membro do grupo, está desenvolvendo pesquisa de doutorado sobre os sem religião, o que sem dúvida trará novos elementos para a discussão do tema. Em 2011, este blogueiro, que também é filiado ao REPAL, defendeu sua dissertação de mestrado sobre os pentecostais na periferia de São Paulo, tendo como estudo de caso o bairro de Perus (conheça o arquivo da dissertação clicando aqui).


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Faleceu a antropóloga Clara Mafra, estudiosa do movimento pentecostal no Brasil


Faleceu no último dia 19 de Julho a professora Clara Cristina Jost Mafra, do Depto. de Antropologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em consequência de um câncer (melanoma) contra o qual lutava nos últimos meses. 

Clara Mafra concentrava suas pesquisas em torno dos fenômenos religiosos nas metrópoles, em especial o pentecostalismo, destacando-se pela publicação dos livros Na posse da palavra (Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa 2002); Os Evangélicos (Jorge Zahar, Rio de Janeiro 2001) e a coletânea Religiões e Cidades, organizada com Ronaldo Almeida (Terceiro Nome, São Paulo 2009). Clara também publicou diversos textos em revistas acadêmicas e capítulos de livros. Era formada em Ciências Sociais com mestrado em Antropologia Social (ambos na UNICAMP) e doutorado em Antropologia Social (Museu Nacional/UFRJ) Realizou pós-doutorado na Universidade de Aberdeen e na Universidade da Califórnia, San Diego

Sem dúvida Clara Mafra deixou uma grande contribuição para os estudos do Movimento Pentecostal no Brasil.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Jesus, o modelo ideal de humildade (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fl 2.5-11

Na época em que eu era aluno do curso de teologia um professor citou uma frase da qual eu nunca mais me esqueci (embora tenha me esquecido do nome de quem a pronunciou originalmente - se algum leitor souber, por favor escreva lá nos comentários, rsrs). A frase é a seguinte: 

"Em Cristo vemos Deus como realmente Deus é e também vemos o homem como o homem realmente deveria ser" 

Esta citação tem uma relação direta com o texto de Fl 2.5-11, em que Paulo utiliza o exemplo da auto-humilhação de Cristo como modelo de conduta para os filipenses.

Nos versículos anteriores (estudados nas duas últimas postagens - aqui e aqui) Paulo fala de suas próprias experiências na prisão e reconhece que seu sofrimento estava servindo de incentivo para que outros pregassem o Evangelho. No entanto, nada se compararia com o exemplo do próprio Cristo! Assim, Paulo escreve uma das mais famosas passagens do Novo Testamento, em que fala do processo espontâneo de humilhação do Filho de Deus.

Antes de falar sobre a passagem, é importante destacar que Paulo a utiliza para criar nos filipenses o senso da humildade. Assim, seu objetivo inicial não era promover uma discussão teológica a respeito da encarnação do filho de Deus (embora o texto naturalmente conduza a isto), mas expor de modo prático a veracidade dos sentimentos e atitudes de Cristo. Assim, volto à citação do início deste texto: Jesus deve ser visto como a expressão exata de Deus, mas também como o modelo ideal de humanidade, já que, estando entre nós em um corpo físico, assumiu todas as prerrogativas humanas, deixando-nos o exemplo de como viver com dignidade em um mundo indigno.

A passagem é fundamental para entendermos (ou pelo menos tentarmos entender) o "mistério da encarnação". Jesus não se "transformou" em homem, já que esta expressão nos levaria a pensar que ele deixou de ser Deus para ser homem. Em nenhum momento Cristo perdeu qualquer dos atributos divinos, embora deles abrisse mão para que pudesse, de fato, assumir a identidade humana em todos os seus aspectos. A passagem diz que Cristo "não teve por usurpação ser igual a Deus" (ARC), "não considerou ser igual a Deus algo a que se devia aferrar" (AR - Imprensa Bíblica), "não considerou que ser igual a Deus era algo a que deveria se apegar" (NVI). Ou seja, ele não "tirou proveito" de sua posição para poder triunfar na terra, embora tivesse sido tentado a fazer isto. O episódio das três tentações de Cristo no deserto apontam para isto. Na ocasião o diabo lhe propôs usar sua condição de Deus para "encurtar o caminho de sua vitória e exaltação", no entanto, Cristo sabia que deveria cruzar este caminho sob a identidade humana e sob a roteiro da humildade. Aceitar a proposta do alheio seria ter usado sua posição de Deus por usurpação, o que comprometeria tanto a sua missão quanto à glória do Pai, bem como a nossa redenção.

Daqui podemos extrair a primeira lição prática: nós nos apegamos ao que temos com muito facilidade, principalmente quando se tratam de títulos honoríficos e posições sociais. Aliás, talvez a maioria de nossas intrigas e discussões seja para que não percamos as coisas que aparentemente nos fazem diferentes dos demais. Jesus, por outro lado, sendo o único que realmente tinha algo diferente de todos os outros homens (não apenas daqueles que viviam em sua época, mas de todos os homens em toda a história da humanidade), não tirou qualquer vantagem de sua posição, mas se igualou àqueles que o cercavam, escolhendo viver de modo humilde.

Seu processo de humilhação não se limitou a viver como um homem comum, mas enfrentar a morte, e pior, a morte de cruz! A crucificação era uma condenação extremamente humilhante. Normalmente quem era crucificado ficava horas e até mesmo dias agonizando em público, sem roupa, enquanto ouvia chacotas  de quem por ali passava. Realmente, era maldito quem era pregado em uma cruz! E Cristo assim o fez, tornando-se maldição por nós.

No texto, Paulo indica que a humilhação de Cristo foi movida pela obediência. Como? Werneer de Boor, explica o versículo 8 da seguinte forma:

Pecado é desobediência! Pecado é a autonomia arrogante que se contrapõe a Deus: quero ter minha própria vida, não quero obedecer, quero seguir minha própria vontade. “Dá-me, Pai, a parte dos bens que me cabe”. Ou, potenciado à máxima insolência: nem mesmo existe um “Pai” que tenha algo a me dar, tudo é simplesmente meu! A primeira desobediência no paraíso desencadeou a avalanche da desobediência, aquela avalanche de desgraças, de trevas e sofrimentos que chamamos de “história universal”. Cada pecado individual volta a ser desobediência, os menores pecados são desobediência, aumentando essa avalanche e sendo arrastados por ela. Deus fala, Deus adverte e suplica. Eu, porém – não quero! Essa é a dor do Filho que ama o Pai: Pai, como te desonram com sua desobediência devota ou insolente, todos eles, todos! Pai, deixa-me restabelecer a tua honra! Quero espontaneamente demonstrar que obedeço a ti como um escravo obedece a seu senhor. Pai, ordena-me o mais terrível. Pai, diante de todos os anjos e diante dele, o autor de toda desobediência contra ti, eu serei obediente! “Humilhou-se, pois, a si mesmo, feito obediência até a morte, porém, à morte da cruz”(*).

Assim, Jesus vai na contramão de toda a arrogância inerente à condição humana, entendendo que o caminho que deveria trilhar era o da obediência e da humildade. Para Paulo esta era a mensagem que deveria ficar impregnada no coração dos filipenses: de nada adiantar ostentar força e poder com o objetivo de sobressair-se, já que o dono de toda a força e poder decidiu percorrer o caminho contrário, humilhando-se a si mesmo.

Paulo conclui a sentença mostrando que Cristo ganhou um nome que é sobre todo o nome. Ou seja, a exaltação final de Cristo colocou-o em um patamar que subsiste às limitações de tempo ou espaço. Por mais que o tempo passe ou as coisas mudem o nome de Jesus continua sendo o centro de todo o Universo. Assim, Paulo quer mostrar que o caminho da humildade e da auto-humilhação, diferente do que se possa pensar a princípio, é o caminho mais glorioso que se pode trilhar!

Na próxima postagem falaremos sobre a aplicação que Paulo faz da passagem que estudamos hoje para a vida cotidiana dos filipenses.

Ate lá e um abraço a todos e todas!

Referências:
(*) BOOR, Werner de. Carta aos efésios, filipenses e colossensesComentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Espernça, 2006. - p.31

Mais no Blog:
O que dizer diante da cruz
Sobre deuses e redes


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Diretor de escola conta suas experiências em livro: "chegava em casa estraçalhado emocionalmente"

Mais uma vez quero compartilhar um texto que não tem relação direta com os assuntos que normalmente trato no blog, mas que chamou minha atenção. Sou professor na rede pública de ensino e compartilho das dificuldades diárias que milhares de profissionais enfrentam a cada dia. Sei que tais dificuldades não são exclusivas de professores, mas se relacionam também com os demais profissionais envolvidos no cotidiano escolar, em especial os colegas coordenadores pedagógicos e diretores. 
No texto a seguir, que encontrei no site livros e pessoas, que por sua vez republicou matéria do Portal UOL,  um ex-diretor de escola conta parte das experiências que passou nos dez anos em que exerceu o cargo. Seus relatos viraram livro. 
A matéria é assinada pela repórter Marcelle Souza. 
Boa leitura! 

‘Chegava em casa estraçalhado emocionalmente’, conta ex-diretor de escola

Marcelle Souza, no UOL

De uma salinha na parte administrativa da escola, ele decide quase tudo: falta de papel higiênico, briga entre alunos, problemas de professores e questões burocráticas com a Secretaria de Educação. Mas quem é esse personagem que aparece nas nossas lembranças da infância como o temido chefe do colégio?
“Vou chamar o diretor já”, “o diretor vem vindo aí…”, Se eles estão fora da classe, basta apontar a cara no corredor para desembestarem em uma correria geral rumo a sala de aula. Como alguém pode ser simpático com uma propaganda tão eficiente? “Vai tomar uma suspensão do diretor”
“Eu chegava em casa todos os dias estraçalhado emocionalmente, é muito pesado, muito desgastante. Você trabalha com os extremos: a ingenuidade de uma criança e a canalhice de alguém que comete alguma irregularidade. Pensei várias vezes em desistir”, afirma Luiz Benedito Ponzeto, 67.
Diretor por dez anos, Ponzeto se aposentou e decidiu contar o cotidiano dessa função. Ele acaba de publicar o livro de crônicas “Diário de um diretor de escola”, com histórias ficcionais sobre o dia a dia da profissão.
Nos textos, Ponzeto mostra que a imagem de temido – quem nunca ouviu a frase “vou chamar o diretor” ou “você vai para a sala a do diretor”? – esconde um ser humano cheio de expectativas e problemas.

Luiz Benedito Ponzeto, ex-diretor

Uma bomba por dia para desarmar
Foram 30 anos de dedicação à escola, como professor de matemática, coordenador pedagógico e diretor de escolas públicas e privadas de várias cidades de São Paulo, e uma “bomba por dia para desarmar”. Há cinco anos, ele se aposentou e teve que romper com os desafios e êxitos da profissão. Precisava descansar.
O livro veio então da vontade de retratar o dia a dia da escola e foi resultado de um grupo de estudos e dos primeiros exercícios escrevendo crônicas. As histórias retratadas, diz o ex-diretor, são ficções, mas bem que poderiam se passar em muitas escolas do país. “Eu queria um texto alegre, ao mesmo crítico, que mostrasse a escola como uma coisa dinâmica, em constante transformação”, diz.
E o cotidiano do narrador do livro não é nada fácil. Imagine ter que virar técnico para resolver o problema no som de uma turma que vai fazer uma festa, conversar com a mãe de um garoto que brigou com os colegas na escola ou decidir entre abrir ou não um pacote suspeito enviado sem remetente.
Em uma das crônicas, a “bomba” do dia é a falta de papel higiênico. Arrecadar dinheiro com alunos? Fazer uma festa? Usar o dinheiro já repassado pelo Ministério da Educação? Ou aguardar a burocracia dos órgãos competentes? Com bom humor e uma dose de preocupação, o diretor dessa escola de mentirinha tenta resolver esse problema tão real.
Um dia de cada vez
Em um trabalho dinâmico, Ponzeto diz que o mais frustrante da função é ver projetos interrompidos e não atingir os objetivos traçados. “Como diretor, você não sabe o que aconteceu com aquela pessoa depois que ela saiu da escola, se valeu ou não todo o trabalho que foi feito”.
Acontece que o Jeferson já aparenta ser adulto, com barba na cara e tudo o mais. E a experiência que já acumulou na sua vida é maior do que a da equipe escolar inteira. Só estão mandando ele de volta para a escola porque foi pego num assalto junto com outros “menores infratores”. E como ainda é menor, não pode ficar fora da escola. Depois que foi pego, cumpriu uns meses na Fundação Casa. Agora está livre para recomeçar do zero, aqui na escola.
Conseguir mudar alguma coisa na vida de um aluno, por outro lado, é maior conquista de um diretor. “O trabalho com o ser humano é muito agradável, especialmente quando você se dedica à construção dele. É muito emocionante, até hoje é muito forte para mim”, diz.
Leia a seguir um trecho do livro:
Uma bomba por dia para desarmar
“Isso aqui está mais para filme de ação do que para instituição de ensino. Mas por que alguém me mandaria uma bomba dessas? Se as xerifes da escola não conseguiram saber a origem desse troço, de nada adianta eu perguntar para Deus e o mundo. Só vou é dar bandeira e colocar mais lenha na fogueira. E muito menos seguir a sugestão da Sandra. Já imaginou o bairro todo ouvindo a sirene da polícia chegando aqui na escola? Vai ser sopa no mel, ou é mel na sopa, nunca sei. As mães invadirão a escola desesperadas para salvar os seus filhos, atropelando os das outras, descompensadas e histéricas: todas elas. Não, isso não, a imprensa, o Datena, Jornal Nacional… E quem vai abrir então? Fiz a pergunta para mim mesmo, estou sozinho na sala, sem pão doce com recheio e nem água com açúcar. Vai que elas têm razão. Dar uma de herói é que eu não vou, nunca tive essa vocação, por isso mesmo fui ser diretor de escola. Mas e os alunos? Se souberem que eu afinei: “amarelou hein diretor”, não admito ser chamado de bundão. Pensando bem, quem faria uma maldade dessas comigo? Não tenho nenhum inimigo conhecido, tenho conhecido inimigos, isso sim, mas são professores; acho que não saberiam montar uma bomba, muito menos caseira, nem existe mais laboratório de ciências.”

Veja também:
Professora brasileira se admira com sistema educacional na Finlândia

terça-feira, 16 de julho de 2013

Um comentário sobre o encontro de cantores evangélicos com a presidenta Dilma Roussef

Ontem um grupo de cantores evangélicos, capitaneados pelo Ministro Marcelo Crivella foram recebidos pela presidenta em audiência. Segundo a assessoria de Dilma a audiência faz parte de uma série de ações promovidas com o objetivo de dar uma resposta às manifestações populares ocorridas no último mês. ´

No entanto, na audiência, tais "representantes dos evangélicos" não apresentaram qualquer tipo de pauta ou reivindicação. Tudo indica que o encontro serviu apenas para colocar tais personagens debaixo do holofote na mídia, com o objetivo de mostrar que os evangélicos são um grupo de peso e com uma grande fatia do público consumidor do país. 

Assim, me pergunto quais seriam os efeitos práticos desta audiência. Apenas dizer que os cantores oraram pela Dilma? Ora, todos sabem que a oração faz parte de um processo de intimidade entre o homem e Deus e que orar pelos governantes não é mais do que uma obrigação de todo cristão sério. 

Na realidade o que me preocupa é a aproximação com o poder, não no sentido de lhe apontar os erros e clamar por justiça, mas no sentido de mostrar-se como uma força política. 

Jesus nos ensinou a ser o sal da terra e luz do mundo. Ora, o sal não aparece mas é fundamental para a conservação do sabor. A luz sim aparece, mas com objetivo de dissipar as sombras. Penso que com atitudes sérias agimos como sal e quando defendemos o que é certo agimos como luz. Queira Deus que a Igreja Evangélica no país siga este caminho e não seja cooptada pelo poder político e pelo poder midiático. 

Cantoras evangélicas e Dilma (Foto: Roberto Stuckert) 

sábado, 13 de julho de 2013

Mais uma dica para o estudo do livro de Filipenses

Na semana passada indicamos aqui no blog mensagem do Pr. Hernandes Dias Lopes sobre o livro de filipenses, no intuito de oferecer um exemplo de aplicação prática da mensagem desta importante carta paulina.





Hoje indico mais uma mensagem, desta vez ministrada pelo pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo - capital (IBAB) Ed René Kivitz (foto). Na realidade trata-se de uma série de mensagens ministradas no ano de 2010 baseadas na carta de Paulo aos filipenses, sob a orientação do livro de Warren Wiersbe, Seja Alegre.

Compartilho hoje a mensagem inicial da série, Alegria em todas as circunstâncias, que tem tudo a ver com a lição 2 da Revista da CPAD deste trimestre. Vale a pena conferir. No link abaixo é possível acompanhar a íntegra da mensagem.

Alegria em todas as circunstâncias - Clique aqui para ouvir

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O comportamento dos salvos em Cristo (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fl 1.27 - 2.4


Como vimos na postagem anterior, quando escreve aos filipenses Paulo relembra as situações vexatórias pelas quais havia passado e ainda estava passando por conta de seu trabalho na causa do Evangelho, mas fala também da forma como lidava com tais situações: sua motivação estava no fato de, mesmo preso e com grande chance de ser condenado à morte, estar contribuindo para o progresso do Evangelho.

Depois desta palavra inicial no 1º capítulo, o foco deixa de ser o sofrimento de Paulo e passa a ser a postura cristã dos filipenses. Não era apenas Paulo quem sofria por conta do Evangelho, mas também seus leitores. Vale a pena lembrar que a cidade era uma colônia romana e que a igreja fora fundada ali debaixo de grande confusão e agitação social. Não era fácil ser cristão em Filipos. Assim, a partir de Fl 1.27 a pergunta que se procura responder é : como ser cristão em uma cidade como Filipos?

O primeiro conselho de Paulo é que os filipenses não colocassem sua esperança em um possível retorno do apóstolo para a comunidade. Todos sabiam que aquela poderia ser a última prisão dele, e que poderiam nunca mais vê-lo, por isso Paulo escreve: quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Fl 1.27 - NVI). Assim, o ânimo dos filipenses deve firmar-se sobre o fato de estarem andando de acordo com o Evangelho, ou como traduzido na NVI, exercendo a cidadania de acordo com o Evangelho. Em uma cidade considerada colônia romana, cujos habitantes desfrutavam da cidadania romana, a ideia de uma cidadania fundada no Evangelho tem um efeito de destaque.

Com relação à resistência enfrentada, Paulo explica que aos irmãos de Filipos foi concedido um duplo privilégio: além de crerem em Cristo, têm a oportunidade de sofrerem por ele. Para o apóstolo, sofrer por Cristo significa partilhar de uma experiência da qual o próprio Senhor passou. Merece destaque aqui a visão que os primeiros cristãos tinham sobre o sofrimento: o simples fato de sermos cristãos muitas vezes nos leva até ele e devemos enfrentá-lo com firmeza, de modo a testemunhar nossa fé. Cristo  é o exemplo maior. Assim, para enfrentar o sofrimento e a resistência, os filipenses deveriam fazer como Paulo fez e explicou nos versículos anteriores: devem preocupar-se com o Evangelho, fazendo com que as tribulações apontem para Cristo.

Assim, na parte final do capítulo 1, Paulo fala do cuidado que os filipenses teriam de tomar com relação à resistência externa. No entanto, a partir do capítulo 2, a preocupação é outra. Neste capítulo o foco está nas relações internas da Igreja, na forma como os irmãos deveriam relacionar-se.

Pensando na relação entre a preocupação com a resistência externa e os problemas internos da igreja, lembro-me de uma ilustração proposta por C.S. Lewis no clássico "Cristianismo Puro e Simples" (que é aliás um dos melhores livros que já li). Lá ele compara a jornada cristã com um grande número de barcos navegando para o mesmo destino. Ao mesmo tempo em que cada capitão deve estar atento com o que acontece dentro de seu próprio barco, garantindo a alimentação de sua tripulação, deve estar atento também ao caminho geral que está sendo percorrido pelos demais barcos.

Assim deve acontecer também com a igreja e com cada cristão em particular: é necessário estar atento à resistência externa para que esta não lhe roube as forças, no caso dos filipenses a perseguição e pressão da sociedade romana. Também deve-se dar atenção aos problemas que podem surgir internamente, no caso dos filipenses as dificuldades de relacionamento interpessoal, que embora ainda não fossem um problema generalizado na igreja, poderiam se tornar em uma grande barreira para que a igreja cumprisse sua missão (o tema aparecerá em outras partes da carta).

A Igreja de Filipos só aguentaria a pressão da sociedade se estivesse unida e disposta resolver quaisquer problemas de relacionamento que enfraquecessem sua coesão interna. Por isto Paulo aconselha: cada um deve considerar os outros superiores a si mesmo. Logicamente isto não significa adotar uma posição ingênua diante dos defeitos dos demais irmãos, mas reconhecer a dignidade que a graça de Deus concedeu a cada um, de modo a que todos sintam-se envolvidos no mesmo objetivo cristão.

Neste ponto a carta toca em um dos aspectos mais complicados da natureza humana: o orgulho. Sem dúvida um dos maiores desafios para qualquer pessoa é deixar seus próprios interesses de lado e pensar no outro, mesmo que este outro não possa contribuir em nada para seu projeto pessoal. Assim, para resgatar o ideal de abnegação e humildade no coração dos filipenses Paulo usa o exemplo de Cristo e escreve uma das passagens mais marcantes do Novo Testamento, que será tema da próxima aula da EBD e de nosso próximo post desta série.

Abraço a todos e todas!

Referências:
DAVIDSON, F (ed). O novo comentário da Bíblia. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1997
HARRISON, Everett F (org). Comentário Bíblico Moody - vol 5. São Paulo: Batista Regular, 1999
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Dica para o estudo do livro de Filipenses

No próximo domingo, dia 7, Escolas Dominicais de todo o país que utilizam a Revista da CPAD iniciarão o estudo da carta de Paulo aos Filipenses. 
Creio que todo o ensino bíblico ministrado em um trabalho ao estilo da Escola Dominical necessita obrigatoriamente de dois fatores: a explicação do texto bíblico e a aplicação para a vida prática. Trocando em miúdos: o aluno deve entender basicamente o que Paulo estava querendo dizer aos filipenses, e paralelamente conseguir tirar lições para a sua própria vida. Cabe ao professor conseguir equacionar e apresentar estes dois aspectos aos alunos. 
No vídeo a seguir temos um excelente exemplo de aplicação da carta de Paulo aos filipenses para a vida dos cristãos no século XXI. Trata-se da mensagem "ladrões de alegria" ministrada pelo pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes na Igreja Assembleia de Deus de Blumenau em 2012. 
Logicamente o vídeo não é de uma aula de EBD, mas oferece importantes elementos que podem contribuir para responder a pergunta que pode surgir na mente de muitos alunos da Escola Dominical neste trimestre: o que eu tenho a ver com a carta aos filipenses? 
Vale a pena conferir!


Abraço a todos e todas!

Veja também:
Mais uma dica para o estudo do livro de Filipenses
Paulo e a Igreja em Filipos (comentário da 1ª lição)
Esperança em meio à adversidade (comentário da 2ª lição)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O que dizer diante da cruz? (em áudio)

Compartilho hoje o arquivo em áudio da mensagem que preguei no dia 23 de junho de 2013 na Igreja Assembleia de Deus de Jardim da Conquista, bairro de Perus, em São Paulo. O texto-chave foi Lc 23.33-48.



Para ouvir ou baixar a mensagem CLIQUE AQUI


Abraço a todos e todas! 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Esperança em meio à adversidade (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fl 1.12-26

Como já comentamos na postagem anterior, existia entre Paulo e a Igreja de Filipos uma proximidade fraternal bastante forte. Tudo indica que os leitores da carta estavam realmente preocupados com a situação do apóstolo, e queriam saber o que tinha acontecido com ele desde a última vez em que tinham recebido notícias suas. Desta forma, antes de discutir questões doutrinárias e escrever conselhos aos leitores, Paulo fala acerca de sua situação pessoal (que aliás não era das melhores!), com o objetivo de aliviar o preocupado coração dos filipenses.

Segundo a linha de raciocínio de Werner de Boor, é bastante provável que no momento em que escreve aos filipenses Paulo já não estivesse na prisão domiciliar, na qual ficou por pelo menos dois anos em Roma (situação a que se referem os dois últimos versículos do livro de Atos dos Apóstolos). É possível que Paulo tivesse sido transferido para uma prisão de fato, onde era vigiado pela guarda pretoriana (se no entanto ele ainda estava em prisão domiciliar, podemos afirmar que, de qualquer forma, era vigiado por pelo menos um guarda deste destacamento). Assim, enquanto aguardava notícias sobre o processo judicial em que estava envolvido, Paulo perdera sua liberdade e para cúmulo dos males, ouvira falar de irmãos que egoisticamente pregavam o Evangelho com o mero objetivo de fazê-lo sofrer mais ainda na prisão, talvez imaginando que desta forma despertariam nele o sentimento de impotência. Sem falar no fato de que, tanto Paulo quanto os filipenses soubessem que a condenação à morte para o apóstolo era muitíssimo provável.

Além de todos estes problemas, Paulo já tinha passado por diversas situações constrangedoras e que lhe trouxeram inúmeros sofrimentos. Em II Coríntios 11 ela oferece uma lista destes momentos angustiantes. Com a palavra, o próprio apóstolo Paulo:

 "Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas." (2 Coríntios 11:24-28 - NVI)

Sem dúvida todo o histórico de sofrimentos do apóstolo somado à falta de perspectivas quanto a sua saída da prisão, normalmente levariam qualquer pessoa à desesperança completa. Mas não foi o que aconteceu com Paulo.

Se tivéssemos que resumir a carta aos filipenses em uma palavra, o termo ideal seria "alegria". O fundamento da alegria cristã é o tema geral sob o qual gravitam todos os demais assuntos da epístola. Não que Paulo tivesse escrito pensando: "vou elaborar uma carta cujo tema central é a discussão doutrinária sobre o que é alegria". Não. A alegria é um tema que surge de forma natural a medida que o apóstolo vai falando de sua situação e de sua esperança. A alegria brota espontaneamente dos lábios de Paulo enquanto ele fala de sua maior aspiração: ser como Cristo e enquanto se dedica a este propósito, fazer o possível para que seu Evangelho chegue ao maior número de pessoas, mesmo que no meio de tudo isto estejam presentes a dor, a humilhação, o sofrimento e mesmo a morte.

Ao falar sobre seu sofrimentos, Paulo não quer passar uma imagem de auto-piedade ou mesmo indicar que estava desistindo de seguir em frente. Embora soubesse que a morte poderia estar muito perto, Paulo se revigorava com o fato de que ainda poderia contribuir com o crescimento do Evangelho enquanto estivesse vivo. Aliás, na própria prisão fazia questão de evangelizar os militares da guarda pretoriana, sem contar o fato de saber que sua prisão motiva outros a também se dedicarem à pregação (embora alguns por motivos egoístas, mas tantos outras de "boa mente"). Esta é a base de sua alegria, e que lhe motivava a continuar vivo: contribuir para a proclamação da Palavra de Cristo. Neste contexto surge a palavra "esperança", escolhida pela CPAD para embasar a lição de hoje.

A esperança de Paulo não se apoiava no fato de ser liberto da prisão, mas em saber que, se ele fosse solto, se continuasse preso ou mesmo se fosse morto, de qualquer forma o desfecho de sua vida lhe "resultaria em salvação" (Fl 1.19). Ou seja, além de sua própria salvação, outros também poderiam conhecer a Cristo, e isto era o mais importante.

Penso que esta lição nos oferece a oportunidade de pensarmos sobre qual é motivação maior de nossa vida. Paulo estava certo disso! A frase do pastor Martin Luther King Jr (1929-1968) se encaixa perfeitamente no contexto desta lição: "Quem não tem uma causa pela qual morrer não tem um motivo para viver". Que estejamos certos dos motivos que nos norteiam como cristãos!

Abraço a todos e todas!



Referências:
BOOR, Werner de. Carta aos efésios, filipenses e colossenses: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Espernça, 2006.
DAVIDSON, F (ed). O novo comentário da Bíblia. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.