terça-feira, 2 de julho de 2013

Esperança em meio à adversidade (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fl 1.12-26

Como já comentamos na postagem anterior, existia entre Paulo e a Igreja de Filipos uma proximidade fraternal bastante forte. Tudo indica que os leitores da carta estavam realmente preocupados com a situação do apóstolo, e queriam saber o que tinha acontecido com ele desde a última vez em que tinham recebido notícias suas. Desta forma, antes de discutir questões doutrinárias e escrever conselhos aos leitores, Paulo fala acerca de sua situação pessoal (que aliás não era das melhores!), com o objetivo de aliviar o preocupado coração dos filipenses.

Segundo a linha de raciocínio de Werner de Boor, é bastante provável que no momento em que escreve aos filipenses Paulo já não estivesse na prisão domiciliar, na qual ficou por pelo menos dois anos em Roma (situação a que se referem os dois últimos versículos do livro de Atos dos Apóstolos). É possível que Paulo tivesse sido transferido para uma prisão de fato, onde era vigiado pela guarda pretoriana (se no entanto ele ainda estava em prisão domiciliar, podemos afirmar que, de qualquer forma, era vigiado por pelo menos um guarda deste destacamento). Assim, enquanto aguardava notícias sobre o processo judicial em que estava envolvido, Paulo perdera sua liberdade e para cúmulo dos males, ouvira falar de irmãos que egoisticamente pregavam o Evangelho com o mero objetivo de fazê-lo sofrer mais ainda na prisão, talvez imaginando que desta forma despertariam nele o sentimento de impotência. Sem falar no fato de que, tanto Paulo quanto os filipenses soubessem que a condenação à morte para o apóstolo era muitíssimo provável.

Além de todos estes problemas, Paulo já tinha passado por diversas situações constrangedoras e que lhe trouxeram inúmeros sofrimentos. Em II Coríntios 11 ela oferece uma lista destes momentos angustiantes. Com a palavra, o próprio apóstolo Paulo:

 "Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas." (2 Coríntios 11:24-28 - NVI)

Sem dúvida todo o histórico de sofrimentos do apóstolo somado à falta de perspectivas quanto a sua saída da prisão, normalmente levariam qualquer pessoa à desesperança completa. Mas não foi o que aconteceu com Paulo.

Se tivéssemos que resumir a carta aos filipenses em uma palavra, o termo ideal seria "alegria". O fundamento da alegria cristã é o tema geral sob o qual gravitam todos os demais assuntos da epístola. Não que Paulo tivesse escrito pensando: "vou elaborar uma carta cujo tema central é a discussão doutrinária sobre o que é alegria". Não. A alegria é um tema que surge de forma natural a medida que o apóstolo vai falando de sua situação e de sua esperança. A alegria brota espontaneamente dos lábios de Paulo enquanto ele fala de sua maior aspiração: ser como Cristo e enquanto se dedica a este propósito, fazer o possível para que seu Evangelho chegue ao maior número de pessoas, mesmo que no meio de tudo isto estejam presentes a dor, a humilhação, o sofrimento e mesmo a morte.

Ao falar sobre seu sofrimentos, Paulo não quer passar uma imagem de auto-piedade ou mesmo indicar que estava desistindo de seguir em frente. Embora soubesse que a morte poderia estar muito perto, Paulo se revigorava com o fato de que ainda poderia contribuir com o crescimento do Evangelho enquanto estivesse vivo. Aliás, na própria prisão fazia questão de evangelizar os militares da guarda pretoriana, sem contar o fato de saber que sua prisão motiva outros a também se dedicarem à pregação (embora alguns por motivos egoístas, mas tantos outras de "boa mente"). Esta é a base de sua alegria, e que lhe motivava a continuar vivo: contribuir para a proclamação da Palavra de Cristo. Neste contexto surge a palavra "esperança", escolhida pela CPAD para embasar a lição de hoje.

A esperança de Paulo não se apoiava no fato de ser liberto da prisão, mas em saber que, se ele fosse solto, se continuasse preso ou mesmo se fosse morto, de qualquer forma o desfecho de sua vida lhe "resultaria em salvação" (Fl 1.19). Ou seja, além de sua própria salvação, outros também poderiam conhecer a Cristo, e isto era o mais importante.

Penso que esta lição nos oferece a oportunidade de pensarmos sobre qual é motivação maior de nossa vida. Paulo estava certo disso! A frase do pastor Martin Luther King Jr (1929-1968) se encaixa perfeitamente no contexto desta lição: "Quem não tem uma causa pela qual morrer não tem um motivo para viver". Que estejamos certos dos motivos que nos norteiam como cristãos!

Abraço a todos e todas!



Referências:
BOOR, Werner de. Carta aos efésios, filipenses e colossenses: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Espernça, 2006.
DAVIDSON, F (ed). O novo comentário da Bíblia. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.


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