quinta-feira, 11 de julho de 2013

O comportamento dos salvos em Cristo (Série Filipenses na Escola Dominical) - Fl 1.27 - 2.4


Como vimos na postagem anterior, quando escreve aos filipenses Paulo relembra as situações vexatórias pelas quais havia passado e ainda estava passando por conta de seu trabalho na causa do Evangelho, mas fala também da forma como lidava com tais situações: sua motivação estava no fato de, mesmo preso e com grande chance de ser condenado à morte, estar contribuindo para o progresso do Evangelho.

Depois desta palavra inicial no 1º capítulo, o foco deixa de ser o sofrimento de Paulo e passa a ser a postura cristã dos filipenses. Não era apenas Paulo quem sofria por conta do Evangelho, mas também seus leitores. Vale a pena lembrar que a cidade era uma colônia romana e que a igreja fora fundada ali debaixo de grande confusão e agitação social. Não era fácil ser cristão em Filipos. Assim, a partir de Fl 1.27 a pergunta que se procura responder é : como ser cristão em uma cidade como Filipos?

O primeiro conselho de Paulo é que os filipenses não colocassem sua esperança em um possível retorno do apóstolo para a comunidade. Todos sabiam que aquela poderia ser a última prisão dele, e que poderiam nunca mais vê-lo, por isso Paulo escreve: quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica (Fl 1.27 - NVI). Assim, o ânimo dos filipenses deve firmar-se sobre o fato de estarem andando de acordo com o Evangelho, ou como traduzido na NVI, exercendo a cidadania de acordo com o Evangelho. Em uma cidade considerada colônia romana, cujos habitantes desfrutavam da cidadania romana, a ideia de uma cidadania fundada no Evangelho tem um efeito de destaque.

Com relação à resistência enfrentada, Paulo explica que aos irmãos de Filipos foi concedido um duplo privilégio: além de crerem em Cristo, têm a oportunidade de sofrerem por ele. Para o apóstolo, sofrer por Cristo significa partilhar de uma experiência da qual o próprio Senhor passou. Merece destaque aqui a visão que os primeiros cristãos tinham sobre o sofrimento: o simples fato de sermos cristãos muitas vezes nos leva até ele e devemos enfrentá-lo com firmeza, de modo a testemunhar nossa fé. Cristo  é o exemplo maior. Assim, para enfrentar o sofrimento e a resistência, os filipenses deveriam fazer como Paulo fez e explicou nos versículos anteriores: devem preocupar-se com o Evangelho, fazendo com que as tribulações apontem para Cristo.

Assim, na parte final do capítulo 1, Paulo fala do cuidado que os filipenses teriam de tomar com relação à resistência externa. No entanto, a partir do capítulo 2, a preocupação é outra. Neste capítulo o foco está nas relações internas da Igreja, na forma como os irmãos deveriam relacionar-se.

Pensando na relação entre a preocupação com a resistência externa e os problemas internos da igreja, lembro-me de uma ilustração proposta por C.S. Lewis no clássico "Cristianismo Puro e Simples" (que é aliás um dos melhores livros que já li). Lá ele compara a jornada cristã com um grande número de barcos navegando para o mesmo destino. Ao mesmo tempo em que cada capitão deve estar atento com o que acontece dentro de seu próprio barco, garantindo a alimentação de sua tripulação, deve estar atento também ao caminho geral que está sendo percorrido pelos demais barcos.

Assim deve acontecer também com a igreja e com cada cristão em particular: é necessário estar atento à resistência externa para que esta não lhe roube as forças, no caso dos filipenses a perseguição e pressão da sociedade romana. Também deve-se dar atenção aos problemas que podem surgir internamente, no caso dos filipenses as dificuldades de relacionamento interpessoal, que embora ainda não fossem um problema generalizado na igreja, poderiam se tornar em uma grande barreira para que a igreja cumprisse sua missão (o tema aparecerá em outras partes da carta).

A Igreja de Filipos só aguentaria a pressão da sociedade se estivesse unida e disposta resolver quaisquer problemas de relacionamento que enfraquecessem sua coesão interna. Por isto Paulo aconselha: cada um deve considerar os outros superiores a si mesmo. Logicamente isto não significa adotar uma posição ingênua diante dos defeitos dos demais irmãos, mas reconhecer a dignidade que a graça de Deus concedeu a cada um, de modo a que todos sintam-se envolvidos no mesmo objetivo cristão.

Neste ponto a carta toca em um dos aspectos mais complicados da natureza humana: o orgulho. Sem dúvida um dos maiores desafios para qualquer pessoa é deixar seus próprios interesses de lado e pensar no outro, mesmo que este outro não possa contribuir em nada para seu projeto pessoal. Assim, para resgatar o ideal de abnegação e humildade no coração dos filipenses Paulo usa o exemplo de Cristo e escreve uma das passagens mais marcantes do Novo Testamento, que será tema da próxima aula da EBD e de nosso próximo post desta série.

Abraço a todos e todas!

Referências:
DAVIDSON, F (ed). O novo comentário da Bíblia. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1997
HARRISON, Everett F (org). Comentário Bíblico Moody - vol 5. São Paulo: Batista Regular, 1999
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 2ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.


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