quarta-feira, 24 de julho de 2013

Os "sem religião" do Brasil ganham destaque em jornais da Europa.

Capa do jornal belga Le Soir
Não é segredo para ninguém que o panorama religioso do Brasil tem mudado nas últimas décadas. Os principais aspectos de tal mudança são o declínio do catolicismo e o crescimento acentuado do número de evangélicos (em especial pentecostais). Os números de cada novo Censo apontam para isto (veja em nosso blog aqui e aqui).

No entanto, um grupo que têm aumentado a cada novo Censo e que nem sempre é percebido de forma muito clara é daqueles que se denominam "sem religião". Note que aqui não estamos nos referindo necessariamente a ateus ou agnósticos, mas àqueles que optaram por não estarem sob a tutela de determina instituição religiosa. De acordo com o Censo 2010, este número já alcança 8% da população brasileira. Entre 2000 e 2010 os sem religião tiveram um crescimento de 2,8 milhões de pessoas, totalizando atualmente mais de 15 milhões (destes "apenas" 615 mil se declaram ateus e 124 mil agnósticos).

Ontem, dia 23 de julho, três jornais europeus publicaram matéria sobre o perfil do grupo dos "sem religião" no Brasil. A matéria foi feita pela repórter Chantal Rayes, correspondente de São Paulo do jornal francês Libération. A matéria faz parte da cobertura européia da presença do papa Francisco no Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. Além do Liberátion, a matéria também foi reproduzida no Le Temps, da Suiça e Le Soir, da Bélgica.

Paul Freston (foto: divulgação)
Foram entrevistados  os professores Paul Freston (doutor em sociologia pela UNICAMP e professor da UFSCar) e Dario Paulo Barrera Rivera (Doutor em Ciências da Religião pela Univ. Metodista de São Paulo e professor da mesma Universidade). Freston declarou que os sem religião "são pessoas que mantêm a fé, ou pelo menos uma forma de espiritualidade, mas rejeitam rótulos religiosos. São a expressão de uma crise geral das instituições que não poupa as Igrejas". 

O professor Paulo Barrera destacou que o grupo dos sem religião não é meramente uma expressão das camadas mais ricas da sociedade, mas que se manifesta com intensidade nas regiões de periferia das grandes metrópoles, também entre pessoas com pouca escolaridade. Nestes espaços as igrejas pentecostais também aparecem com vigor. O professor destacou ainda que o fenômeno dos sem religião também está presente em outros países da América Latina, como Chile, Argentina e Uruguai.

O interesse de um jornal francês sobre o tema reflete um processo que é percebido com maior intensidade nos países europeus: a perca da centralidade das instituições religiosas na pós-modernidade. O livro da pesquisadora francesa Daniele Herviéu-Léger, O peregrino e o convertido (publicado no Brasil pela Paulinas) retrata esta questão e tornou-se referência para o estudo do tema.

Paulo Barrera (foto: Alex Fajardo)
Vale a pena lembrar que o professor Paulo Barrera, que foi entrevistado na matéria, coordena o Grupo de Pesquisas Religião e Periferia na América Latina (REPAL) que reúne pesquisadores de diferentes instituições que se debruçam sobre o estudos das formas de manifestação religiosa nas periferias das metrópoles latino-americanas. Marcos Nicolini, membro do grupo, está desenvolvendo pesquisa de doutorado sobre os sem religião, o que sem dúvida trará novos elementos para a discussão do tema. Em 2011, este blogueiro, que também é filiado ao REPAL, defendeu sua dissertação de mestrado sobre os pentecostais na periferia de São Paulo, tendo como estudo de caso o bairro de Perus (conheça o arquivo da dissertação clicando aqui).


Um comentário:

  1. Qual será o motivo desse crescimento?Abandono das religiões? Descarte do ensino religiosos seja por meio educacional ou familiar? Frustração com líderes religiosos? Vejo um campo fértil nesse crescimento, ma também preocupante!

    Forte abraço

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