sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

As pragas divinas e as propostas ardilosas de Faraó (Série Êxodo na Escola Dominical)


O relato das dez pragas lançadas contra o império egípcio é sem dúvida um dos mais marcantes do Antigo Testamento. Podemos entender as dez pragas como uma resposta de Deus à pergunta de Faraó: "Quem é o Senhor, para que eu lhe obedeça e deixe Israel sair?"( Êx 5.2 ). De fato, o que está em questão no relato é a superioridade do Deus dos hebreus em relação aos deuses do Egito.

É interessante lembrar que o Deus adorado pelos hebreus, diferente de todas as divindades cultuadas pelos egípcios não possuía e não possui qualquer representação através de imagens ou escultura (este inclusive se tornaria posteriormente o segundo mandamento dado aos hebreus: a proibição quanto à criação de imagens que representassem Deus). Assim, muito mais que uma mera punição ao Faraó, as pragas apontam para a superioridade do Deus hebreu em relação a todos os elementos da natureza que os egípcios consideravam deuses.

A primeira das pragas, por exemplo, a de transformar água em sangue, mexia com o elemento natural responsável por transformar o Egito em um Império em meio ao deserto: o rio Nilo. De fato, o grande rio era responsável por fornecer vida a um Império cravado em uma região desértica. Assim, mais do que um rio, o Nilo era considerado um deus. E foi ali que a primeira das demonstrações da existência e superioridade de Deus se manifestou.

E assim aconteceu com as outras pragas: rãs, piolhos, moscas, doenças nos animais, saraivas, gafanhotos, trevas apalpáveis (ou seja, causada por tempestades de areia) e por fim a morte dos primogênitos (que será estudada na próxima lição). Enfim, todas elas estavam de alguma forma relacionadas a "desbancar" alguma divindade egípcia. Parte delas foram antecipadas por avisos por parte de Moisés e outras vieram sem aviso prévio. Em algumas delas faz-se questão de dizer que os hebreus não foram afetados. Das duas primeiras os magos egípcios conseguiram fazer uma "cópia" (resistindo a Moisés, conforme II Tm 3.8), das demais, não.

O foco da lição da CPAD para as pragas está nos diálogos e nas propostas apresentadas pelo Faraó a Moisés. Neste ponto gostaria de destacar dois elementos. O primeiro deles é a questão de Faraó ter endurecido o coração, tema debatido pelo apóstolo Paulo em Romanos capítulo 9 e que tem sido fonte de inúmeros debates sobre o livre arbítrio humano. Entendo que o texto bíblico nos indica que Deus utilizou o já endurecido coração do líder egípcio, acentuando inclusive esta tendência,  para mostrar ao próprio Faraó, aos egípcios, aos hebreus e às gerações futuras a sua glória e soberania, embora isto não isente Faraó de sua culpa. Isto nos mostra que mesmo o duro coração humano não é um impedimento para que Deus faça cumprir seus propósitos de redenção da humanidade, nem mesmo uma barreira para a manifestação de sua glória (embora o coração que se endureceu não participe desta experiência).

O segundo aspecto é com relação às "brechas" que Faraó abriu para a negociação com Moisés (permitir que o povo sacrificasse a Deus no próprio Egito, que não fosse tão longe, ou então ir sem as mulheres, sem os bens e crianças). Tais propostas não mostram um Faraó que estivesse temendo a Deus, mas um Faraó que estava temendo às pragas. Comportamentos similares ainda podem ser vistos em nossos corações, quando buscamos a Deus por conta de algum interesse prático e não por conta do próprio Deus.

Enfim, acredito que as pragas tinham um propósito duplo: além de mostrar aos egípcios quem era o Deus dos hebreus e assim responder a irônica pergunta de Faraó em Ex 5.2., as pragas serviram também como experiência histórica da ação divina para os próprios hebreus, que a partir de então tiveram elementos para perceber que o Deus de seus antepassados Abraão, Isaque e Jacó também era o seu próprio Deus.

Para o próxima semana teremos o desfecho final das pragas com a celebração da Páscoa.

Até lá!




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